Pinto Júnior

12/08/2018 12h57

Através do amigo, jornalista e escritor Cefas Carvalho, chegou às minhas mãos o livro: Doze Contos Serranos, do escritor seridoense Wescley J. Gama. Já conhecia a poesia do vencedor do Quarto Concurso de Poesias Zila Mamede. Mas, confesso me encantei com seus contos rápidos. Certeiros. Quando, menos é mais. Cheios de cores da zona rural, do sitio e do roçado. Os contos de Wescley Gama toca a memória afetiva de quem viveu no sítio. De quem carrega no peito “um sentir” rural. Pelo menos, assim os senti...

Tive a sensação de sentir o cheiro do café de minha avó materna Basília. Ali no Sítio Novo, divisa de Picuí com Nova Floresta, Paraíba. Coladinho com Jaçanã, no Rio Grande do Norte. A Serra de Santa´anna deve ser gêmea da Serra de Cuité. O perfume saia do fogão de alvenaria, a lenha, feito em uma das extremidades. A outra extremidade era usada como mesa. Nos alimentávamos diante do calor do fogo multicolor. Poderíamos tomar café ou almoçar na cozinha ampla. No fogão comprido.

Hoje as cozinhas são cada vez menores. Naquela cozinha, o café era sempre o mais elogiado. “Café `morto a pau` pisado no pilão, torrado com rapadura e açúcar, preparado em chaleira de barro”, como descreve Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues no livro O fole. Confesso que gostava tanto do cheiro quanto do café. Já que percorri muitos cafés de Natal e de tantas outras cidades, mas só voltei a sentir o cheiro do café de minha avó, no conto de W. Gama. “O café, a janela, as plantas e a luz da manhã ainda estavam ali”.

Os Contos Serranos de W. Gama tem gosto de caju. Não de caju que compro no supermercado embalado em plástico, mas os cajus conseguidos depois de escalar o caule do cajueiro e percorrer galhos, até pegar o fruto com a mão, segurar na castanha e morder a carne do caju, sorvendo o suco doce e mastigando o bagaço até triturar com meus dentes de criança.

Quando menino adorava um chiclete chamado Ploc, trazia figurinhas que tatuávamos na pele. Então, descastanhava cajus e vendia as castanhas na Bodega de “Seu Patrício”, onde comprava baganas, inclusive a goma de mastigar.

As cores da serra e as cores do Seridó estão nas linhas e entrelinhas dos seus textos. A literatura tem gosto e tem cor. O colorido do sol nas plantas inspira o escritor. Assim como a cacimba. Quem vive no sitio sabe o quanto a cacimba é fonte de vida. Mas, é lá que existe o bicho que assusta as meninas. Lá é moradia dos sapos, das rãs. A parede fica esverdeada de lodo. Surgem plantas nas paredes do cacimbão.

No começo é claro, quando o olhar volta-se para a profundidade em busca da água... vai ficado escuro. No meu tempo, soltava uma pequena pedra para ouvir o barulho: ploc! Barulho parecido com o estouro da bola feita com o chiclete na boca. No conto Cacinbão: “O burro, com cargas d´água, passa sede no caminho seco”. Degustar e observar. Mas também escutar.

Nas velhas paredes de minha memória, voltei a ouvir as histórias de trancoso de Dona Joana de seu Rosemiro, mãe de Zé Bruquei. Depois da narração de estórias improváveis terminava sempre assim. “Entrou pela perna do pinto e saiu pela perna do pato, quem não gostou que conte quatro”. Já a estória de trancos narradas por Gama termina assim : “Entrou pela perna do pinto e saiu pela perna do pato, quem quiser melhor do que esta que invente e conte outra”.

A Serra de Santana, onde nasceu o autor, Wescley J. Gama, é cheia de cores, gostos, sabores e histórias. Esta Serra é deve ser irmã gêmea da Serra de minha infância. Os textos curtos que compõem o livro: Nove Contos Serranos, faz jus a expressão: “No menos, mais”. Como escreveu Julio Cortázar: “No combate entre um texto apaixonante e seu leitor, o romance ganha sempre por pontos, enquanto o conto deve ganhar por nocaute”. Aqui está um leitor nocauteado!”


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