Wellington Duarte

03/01/2020 02h14
 
MUNDO SOMBRIO: A VOLTA DO RACISMO COMO INSTRUMENTO DE LUTA POLÍTICA EM PLENO SÉCULO XXI
 
Ao postar sobre o genocídio ocorrido em Ruanda, em que foram chacinados mais de UM MILHÃO de pessoas em 96 dias, corri o risco de ser acusado de “descontextualizado”, afinal o grande problema é a luta contra Bolsonaro.
 
Mas é bom fiquemos cientes que o componente étnico na luta política voltou, e com intensidade macabra. Posso recuar, sem medo, até o final dos anos 80 e início da década de 90, para rastrearmos esse nascimento, mas o ressurgimento do nazi-fascismo deu campo para grupos sociais aderirem à violência étnica e de raça.
 
As querelas étnicas, comuns no Mundo Indiano, e volta e meia encoberto pela religião, mas que pareciam contidos no Ocidente “civilizado”, emergiram com força durante o apodrecimento da URSS, principalmente no Cáucaso, opondo armênios e azeris, chegando a provocar uma guerra sangrenta entre a Armênia e o Azerbaijão.
 
Nos escombros do “mundo soviético” emergiram os conflitos sociais que traziam, em muitos casos, a marca da etnia. O caso exemplar da implosão da Iugoslávia, que resultou numa guerra sangrenta que causou DUZENTAS MIL mortes, em pleno coração da Europa, mostra que as etnias davam base para as guerras, muitas delas complexas.
 
O genocídio em Ruanda, com sua trágica história de “criação” de etnias, feitas pelos alemães e belgas, não foi o único exemplo. Antes, na Nigéria, opondo ibos e fulanis, numa guerra que durou três anos (1967-70) e que deixou CEM MIL MORTOS, mostrava que a etnia não fora enterrada nos escombros da segunda guerra. Pior: a África, o continente rejeitado, vê na pobreza e na sua “deformação” feita em 1882, um ambiente propício para a eternização desse tipo de conflito.
 
Os conflitos no Iraque (2003), Síria (2011) e Líbia (2012), sem falar na convulsão social verificada no Egito, Tunísia e na sempre esquecida Somália, criaram um gigantesco exército de refugiados, que passaram a pressionar a Europa em ondas de refugiados, reforçando o discurso racista dos grupos de extrema-direita e reforçando sua base social, pois os refugiados passaram a ser vistos como um estorvo.
 
Após o fim da URSS e o anúncio do fim dos grandes conflitos, vemos o mundo imergir na decadência econômica, que abre espaço para os discursos de ódio, que podem começar pelas opções políticas, passa pelas escolhas sexuais e religiosas e descamba para o preconceito de raça. Ou será que a construção do bizarro mundo bolsonarista não segue esse “modelo”?
 
Sem conhecimento não há como quebrar a couraça da ignorância do nazi-fascismo. Para se opor à essa narrativa medieval e obscura, é preciso DESTRUIR sua base de referência, ou seja, os grupos progressistas precisam se qualificar para que convença o desesperado a não escolher o caminho aparentemente mais fácil, baseado em todo tipo de preconceito, em troca de uma suposta (e inexistente) melhoria na vida.

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