Renisse Ordine

07/11/2019 07h32
 
 
Casas, casebres, barracos, não importa o nome que se dê àquele emaranhado que vemos nos morros. Aquela imensidão de luzes e sombras em meio a um aglomerado de gente. Ninhos de choque atravessado pelos postes, os “gatos”, como única opção de se ter um milímetro de dignidade; um banho quente para se tomar e uma luz no teto para poderem se olhar, quando o sol se apaga. 
 
Ressalta aos olhos essa vida marginalizada e esquecida. Como é estranho pensar que há tantas vidas diferentes para as mesmas sofridas questões de sobrevivência. 
 
Dos cortiços no chão rente, como bem retratou Aluízio de Azevedo em seu livro “O cortiço”, uma comunidade amontoada e com escassos recursos de vida e cultura começa a ser empurrada para o morro, a fim de limpar a paisagem dos mais ricos, que imitando o estilo europeu do século XIX, gostavam de caminhar trajando belos vestidos palas e beber o chá das cinco. Mesmo sob a luz de um sol escaldante. 
 
Na literatura, de Machado de Assis a Maria Carolina de Jesus, um do Morro da Providência, Rio de Janeiro e a outra, da Favela do Canindé, São Paulo. Estados opostos, mas que revelaram ao mundo que a intelectualidade ali também se faz presente. 
 
Para Machado de Assis, a apresentação não se faz necessária; Maria Carolina de Jesus, com o seu único livro “Quarto de despejo – diário de uma favelada”, é considerada uma das principais escritoras negras do país. Uma leitura que revela uma mulher negra e pobre, mas sedenta de cultura, e mesmo com a sua árdua rotina, necessita da leitura e escrita em sua vida. 
 
Nos livros, essas pessoas são reflexos da condição de luta e sobrevivência. Porém, é um espelho para que outros se sintam motivados para fazer a arte acontecer, apesar de tudo. 
 
Quando a literatura sobe o morro, ela desce com a realidade despercebida aos grandes centros. Depositando as suas esperanças na literatura, esperando que ela exerça o seu papel, o de modificar e incomodar, uma sociedade que “desconhece” a sua própria gente.
 
A literatura muda, uma sociedade muda!
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).