Wellington Duarte

08/07/2019 15h20
 
Política e Metal: começa o cercamento da “cena”
 
 
Desde 2013 que segmentos do Rock e mais especificamente do Metal, passaram a fustigar os “petralhas”, aderiram ao discurso da “batalha contra a corrupção”, comemoram a deposição de Dilma Roussef e abraçaram a causa fascista de Jair Bolsonaro.
 
Eu vi esse fenômeno chegar à cena natalense e vi um inusitado anti-comunismo emergir dos segmentos mais “radicalizados”, muitos do Black, Death e alhures. Vi headbangers mandar petistas e comunistas pro inferno, defender a pena de morte, o linchamento e aderir, sem pudor à onda machista.
 
Ouvi o “tem que acabar com os comunistas”; “tem que detonar os petistas”; “tanto faz quem estiver no poder, não muda nada” e uma infindável série de frases, furibundas ou não, “comemorando” a derrocada do pensamento esquerdista, taxado de “autoritário”.
 
Em seis meses de um governo que não tem nenhum receio em assumir as bandeiras fascistas, o cerco ao Metal, o lado mais bruto da contestação à ordem, começa a ser feito e posso dizer que o evento que foi proibido na marra no Pará, o “Facada Fest”.
 
A Polícia Civil atendeu a um pedido da Polícia Militar e proibiu a realização do Facada Fest no Mercado de São Brás, em Belém, sob a acusação de que o festival fazia apologia à violência. Na verdade o festival tinha como tema a irreverência e o protesto, elementos balizares do Rock e do Metal,
 
O deputado paraense Eder Mauro e o filho do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, fizeram duras críticas ao festival musical. Eder Mauro chegou a dizer que iria colocar o evento no calendário da polícia e assim foi feito.
 
Os participantes classificam a atitude como “censura” e várias pessoas que iriam frequentar esta que é a terceira edição do Facada Fest bloquearam a avenida 16 de novembro com a rua João Diogo em protesto. Gritando palavras contra a repressão e a censura, os manifestantes pedem que as autoridades deem uma explicação plausível sobre os verdadeiros motivos do encerramento do evento.
 
Indignados com a censura sem motivo justificado, os roqueiros fecharam ruas aos gritos de “Bolsonaro cheira pó! ”, “Censura não nos cala” e “Abaixo a ditadura! ”. Depois de criado o impasse, a situação acabou gerando um ato público de protesto em torno do Palácio Antonio Lemos, organizado por estudantes e participantes do festival. Barricadas e fogueiras foram acesas durante a manifestação.
 
Lembrei do último Abril Pro Rock, onde ouvi alguns grunhidos de heabangers reclamando da “politização” do evento. Para muitos Metal e Política são coisas destoantes, não pertencem ao mesmo plano e, estando em dimensões diferentes, não se deve “misturar as duas coisas”.
 
O que estamos vendo, entretanto, é que Política e Metal estão no mesmo plano e os efeitos da destruição do primeiro já se vê no encolhimento brutal dos eventos, simplesmente porque ninguém tem mais grana pra ajudar; no fechamento, muito suspeito, da Estação Ribeira, uma das últimas casas de evento da “cena” em Natal e do rápido empobrecimento dos próprios membros da “cena”, visto que muitos são assalariados e o desemprego, só em Natal, já beira os 17%.

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