Wellington Duarte

29/04/2019 09h59
 
O que nos mostra a eleição na Espanha?
 
Ontem tivemos eleições na Espanha, um país de 47 milhões de habitantes e com o tamanho de estados como a BA e MG, estando dentre os 15 mais ricos países do mundo. Lembrando que a Espanha foi governada, entre 2011 e 2018, pelos conservadores do Partido Popular (PP).
 
A Espanha é, na atualidade, o que se denomina um "Estado de Autonomias", um país formalmente unitário, mas que funciona como uma federação descentralizada de comunidades autônomas, cada uma delas com diferentes níveis de autonomia.
 
As diferenças dentro deste sistema são provocadas pelo processo de transferência de responsabilidades do governo central que garantisse um maior grau de autonomia somente àquelas comunidades que buscavam um tipo de relação mais federalista com o resto da Espanha ( Andaluzia, Ilhas Canárias, Catalunha, Aragão, Comunidade Valenciana, Ilhas Baleares, Galiza e País Basco), que nos últimos anos gerou um crescente movimento separatista, principalmente na Galícia, Navarra, Catalunha e o País Basco.
 
Sem esse preâmbulo, compreender o que se passa na Espanha, pode levar a incompreensões.
 
O vencedor das eleições de ontem é o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), um partido social-democrata, que se aproxima mais do centro do que propriamente da esquerda, tendo inclusive posições contraditórias no que diz respeito à política internacional, mas que na conjuntura atual, deve ser considerado como “progressista”. O PSOE, 3 anos atrás tinha levado uma “surra eleitoral” do PP, obtendo apenas 22,6% dos votos, contra 33,0% dados ao PP. Naquela ocasião os socialistas elegeram 85 deputados (- 5 em relação a eleição anterior), contra 137 do PP (+14 cadeiras em relação a eleição anterior).
 
Em 2016, a grande novidade eleitoral era o Podemos, uma federação de partidos e movimentos progressistas, que obtivera 21,2% dos votos, elegendo 71 deputados, ameaçando a hegemonia do PSOE no campo progressista. Aliás a relação entre o Podemos e o PSOE não teve momentos de hegemonia, já que os primeiros acusam o PSOE de terem se dobrado à “burocracia partidária” e isso permitiu que o PP, minoritário, ainda governasse por 2 anos, até que em julho de 2018, recebesse um “voto de desconfiança” do parlamento, com os votos do PSOE e do PODEMOS principalmente, e o opaco primeiro-ministro Mariano Rajoy renunciou, assumindo a jovem estrela do PSOE, Pedro Sánchez, que formou um governo com apenas membros do PSOE, mas com base parlamentar feita com o Podemos.
 
Nas eleições de ontem, os conservadores do PP receberam uma bordoada histórica, caindo para 16,7% dos votos e perdendo nada menos que 69 cadeiras, se reduzindo a 66, sendo ultrapassado, nesse processo, pelos fascistas do movimento Vox (voz em latim), criado em 2013 e que agrupava todas as correntes ultra-nacionalistas de extrema direita e de falangistas adoradores de Franco. Em 2016 esse movimento teve 0,2% dos votos e agora chegou a 10,3%, elegendo 26 deputados, sendo a primeira vez, desde a redemocratização, que fascistas terão voz no parlamento.
 
O PSOE teve 28,7% dos votos e elegeu 123 dos 265 deputados, precisando apenas de 10 votos para obter a maioria absoluta. E o Podemos, perdido entre um esquerdismo militantes e a realidade inconteste, que exige uma aproximação com o centro, obteve 14,3% dos votos, elegendo 42 deputados, perdendo 24 deputados. PSOE e Podemos elegeram, juntos, 165 deputados, embora isso não signifique uma automática aliança parlamentar.
 
Resta agora, para a esquerda e os setores progressistas espanhóis, terem a capacidade de estabelecer uma coalizão que possa governar uma Espanha cheia de problemas econômicos e diante do separatismo catalão e basco.
 
Aguardemos.

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