Andrea Nogueira

16/03/2019 00h15
 
O que nos contavam sobre os homens 
 
No último artigo desta coluna, escrevemos sobre o pós-verdade. Só pra relembrar: o PÓS-VERDADE é identificado numa situação formada a partir de emoções e crenças, sem guardar necessária relação com a veracidade. É algo em que acreditamos porque nos traz uma sensação de bem estar, além de nos manter no aconchego das nossas próprias ideias.
 
Por longos anos, a sociedade acreditou que a mulher tinha um talento superior ao dos homens no que diz respeito à criação dos filhos e organização doméstica. Existia uma ideia de DOM FEMININO quase supremo subjugando o masculino. Assim, eram definidas tarefas exclusivas para os homens, removendo-lhes o direito de verdadeira aproximação afetiva de sua cria.
 
Quando os “chefes de família” assumiam cargos, trabalhos ou atividades políticas que o distanciavam fisicamente dos seus lares, ninguém lhes dava a opção real de recusar-se aquele estilo de vida para que se dedicassem a outro.
 
A sociedade permanecia embalada por conceitos específicos sobre quais seriam as atividades destinadas ao universo masculino. E assim, tudo parecia normal para a maioria. Estavam todos acostumados e envolvidos pela confortável certeza de que faziam o certo. Permaneciam dentro de um rótulo social.
 
Alguns homens, porém, gostavam de cozinhar, de ficar mais tempo com os filhos e eram extremamente organizados no que diz respeito à sua estrutura doméstica. Eles sentiam falta de passar mais tempo ligado fisicamente à sua família. Choravam a saudade de casa. Certamente até pensavam na possibilidade de dividir a responsabilidade da manutenção financeira do lar com suas esposas para que ambos aproveitassem momentos familiares. Mas não seria difícil de acreditar que este tipo de pensamento era imediatamente substituído por um sentimento de vergonha e impotência, já que todos estavam meticulosa e sutilmente “treinados” para sentir e pensar que homem de verdade não deveria fazer comida para sua mulher, limpar uma casa ou tampouco querer isso. Ninguém dizia aos homens que eles tinham opção.
 
O certo sempre teve relação mais íntima com os sentimentos do que com a lógica, pois esta última merecia um estudo, um arcabouço probatório e muita reflexão, enquanto o “sentir” garantia o conforto ou desconforto interior imediato, sem muita reflexão. Assim, era certo acreditar no que a maioria acreditasse. Aliás, ainda hoje estamos submetidos a tudo isso.
 
O homem, assim como a mulher, seguia andando em fileiras: o de traz segue o da frente sem necessariamente olhar além, sentindo-se seguro durante caminhada. Sair da fileira significaria exclusão. Questionar a direção significaria rebeldia. Parar para refletir significaria atraso. Duvidar seria burrice ou assemelhamento com qualquer coisa capaz de lhe afastar da sua natureza pré-determinada. Duvidar o tornaria estranho, esquisito, fora do normal.
 
Quando hoje vemos renomados chefes de cozinha, professores (homens) de ensino fundamental, pais cuidando pessoalmente dos seus filhos, homens que varrem, limpam e organizam seus lares, percebemos o quanto todos eles foram subestimados ao longo dos anos.
 
O que nos contavam sobre os homens era mentira. Eles não eram incapazes, só não tinham oportunidade de exercer as mesmas tarefas das mulheres. Eram reprimidos pela sociedade. Aquele talento exímio na cozinha ou com os afazeres domésticos lhes rotulavam “inapropriados” ou “defeituosos”. 
 
A verdade, por longos anos, sempre foi manipulada. Uma parte da história e da real capacidade de cada pessoa sempre permaneceu oculta. E ainda permanece. Os mais corajosos, porém, descobrirão o mundo real. Eles poderão divulgar este mundo aos demais, mesmo sabendo que não serão acolhidos ou respeitados por muitos. Ainda serão julgados e condenados por serem corajosos para viver como querem. Tentarão. Tentam. Um dia, quem sabe, homens e mulheres serão verdadeiramente iguais. 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).