Cefas Carvalho

06/03/2019 03h46
 
Quarta-feira de cinzas!
 
 
Quarta-feira de cinzas é quando, após o Carnaval, tudo volta ao normal. Isto é, nem tanto. 
 
Bem, até que as coisas de maneira geral, comércio, banco, trabalho, volta ao normal, mas em modo Carnaval, ou seja, depois do meio-dia e em ritmo devagar quase parando.
 
Aliás, nem tudo volta tanto assim ao normal. Para boa parte do serviço público, Quarta-feira de Cinzas é "ponto facultativo", eufemismo administrativo-burocrático para registrar que ninguém da repartição, gabinete ou secretaria vai trabalhar e quem for vai encontrar tudo fechado.
 
Na Quarta-feira de Cinzas ainda tem bloco saindo pelo Brasil afora, e no Rio Grande do Norte não é diferente. Afinal, a festa tem que continuar e o carnaval é a festa certa para ser esticada.
 
E já sei de antemão, pela larga experiência das quatro décadas e meia de vida que tem gente que vai "emendar" a quinta e a sexta subsequentes, ou seja, só começar a trabalhar mesmo na segunda-feira que vem. 
 
Para quem não sabe ou tem preguiça de pesquisar, Quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário Cristão ocidental. De maneira que as cinzas que os Cristãos Católicos recebem neste dia são um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida. Em suma, um dia cristão-católico de recolhimento e reflexão, mas que foi substituído aqui debaixo da linha do Equador pela farra, da mesma maneira que os demais feriados Católicos para muita gente - católica inclusive-  são sinônimos de praia e churrasco.
 
Ah, e Quarta-feira de Cinzas também é o nome de um belo poema de Vinicius de Moraes, lançado em 1941. Segue aqui o "Sonero da Quarta-feira de Cinzas":
 
Por seres quem me foste, grave e pura 
Em tão doce surpresa conquistada 
Por seres uma branca criatura 
De uma brancura de manhã raiada 
 
Por seres de uma rara formosura 
Malgrado a vida dura e atormentada 
Por seres mais que a simples aventura 
E menos que a constante namorada 
 
Porque te vi nascer de mim sozinha 
Como a noturna flor desabrochada 
A uma fala de amor, talvez perjura 
 
Por não te possuir, tendo-te minha 
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada 
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).