Cefas Carvalho

13/02/2019 00h08
 
A "música boa de antigamente" pode ter sido a música ruim da época dela
 
Dia desses, batendo papo sobre música com os jovens jornalistas da Redação do PN William Medeiros e Hugo Vieira eles perguntaram sobre "Enjoy the silence", que expliquei ser um clássico pop-eletrônico da banda inglesa Depeche Mode, anos 80. Conferindo as melhores canções da banda no You Tube leio aqueles comentários de sempre do tipo "Isso que é música. Bons tempos" ou "Hoje só tem banda ruim, essa é de qualidade".
 
Mas, alto lá, aí me lembro que quando Depeche Mode estourou nos anos 80, não "pegava bem" ouvir a banda. Era considerada "música de segundo escalão", afinal, qualidade mesmo era U2, REM, The Smiths, Nick Cave, e mesmo Michael Jackson, Bruce Springsteen, etc. Na minha roda de amigos roqueiros, ai de quem ouvisse coisas como Depeche Mode, Pet Shop Boys, a não ser em discotecas ou na night (hoje, "baladas") e sem levar a sério.
 
Dei-me conta então que "naquela época", ou seja minha juventude entre os anos 80/90, o padrão de qualidade musical considerava Abba sub-música. E, sim, Abba hoje é clássico dos clássicos. Naqueles mesmos anos 80 amigos meus reclamavam que os pais não gostavam que os filhos ouvissem Titãs (era época de "Cabeça Dinossauro").
 
Pois esses mesmos amigos hoje, na faixa dos 40/50, não gostam que os filhos escutem Johnny Hooker, Pablo Vittar, Ludmila.
 
Da mesma maneira que minha mãe relatava como a mãe dela, minha avó, filha de portuguesa, conservadora até a medula, achava "um horror" a Jovem Guarda, claro, para minha avó "musica de verdade" era Altemar Dutra e Vicente Celestino.
 
Enfim, o Mundo é dinâmico, a música ainda mais. O horrível de hoje pode ser o clássico de amanhã. E sou de uma geração que quando adolescente viu/ouviu Sarajane cantando "Tá ficando apertadinha/Abre a rodinha/meu amor, vamos abrir a roda, enlarguecer" em pleno Fanástico com a família tradicional brasileira reunida na sala Sejamos mais tolerantes e flexíveis com a música, os gostos alheios, a juventude e a vida em geral.
 

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