Andrea Nogueira

29/12/2018 07h24
Moça Velha
 
Por: Andrea Nogueira
 
Quanto mais jovens somos, menos compreendemos sobre a importância do tempo e sobre o quanto podemos viver. Assim, para uma grande parcela da população, é comum estar com vinte anos e achar que alguém com trinta anos já é uma pessoa velha. Também é comum naquela mesma tenra idade, achar que uma pessoa com cinquenta anos já está na curva para a morte. No que pese serem comuns esses achismos, a cada década temos a oportunidade de experimentar novas delícias da vida e, geralmente, quem tem 40 anos não troca sua experiência para voltar aos 20. E quem tem 60 anos também não trocaria sua sabedoria pelo conhecimento adquirido aos 30.
 
A verdade é que aprendemos a viver, vivendo.
 
De um modo específico, as mulheres sofrem com a chegada de uma idade peculiar: os trinta anos. E não é pra menos, pois durante muito tempo, chegar aos 30 anos sem casamento e sem filhos seria coisa de “moça velha”. Por causa desse e de tantos outros motivos, várias senhoritas corriam contra o tempo em busca das principais realizações reservadas para ela segundo a própria sociedade. Até os anos 90 era comum, portanto, chegar aos 30 anos com vários filhos (e casada, é claro).
 
Quando faziam trinta anos, as mulheres solteiras eram intituladas “moças velhas”, as mulheres sem filhos, eram as que “ficariam pra titia”, as mulheres sem trabalho ou emprego eram as que “aguardavam um casamento” e as que ainda eram solteiras e financeiramente independentes geralmente terminavam intituladas como as “com problemas”, pois não haviam casado ou tido filhos numa “idade tão avançada”.
 
Hodiernamente está diferente. Um ar de calmaria paira sobre as famílias no sentido de que os casamentos precoces não são tão incentivados pelos pais como antigamente. Na verdade, as famílias mudaram e junto com essa mudança estrutural nasceram novos conceitos de felicidade, se contrapondo aos tradicionais finais felizes das novelas e filmes infantis que estampavam um casamento como o auge da prosperidade. Assim, existem pais que até incentivam seus filhos e filhas a casarem mais tarde, somente após terem diploma e profissão bem consolidada, por exemplo.
 
Contudo, completar trinta anos ainda é um tormento para muitas mulheres. Quando esta idade se aproxima, uma série de conflitos surge do nada. São dúvidas, ansiedade, retrospectivas e planos urgentes para um futuro próximo. Pensamentos sobre o que foi feito e o que ainda falta fazer, como se tempo fosse ficar escasso, passam a atormentar grande parte das moças, sem distinção de classe social. A chegada desta idade para muitas mulheres é uma verdadeira corrida contra o tempo.
 
Certa vez, uma querida amiga passou por este conflito durante o ano inteiro em que havia completado os seus 29. A chegada dos trinta a atormentava. Eu já tinha 36, então achava muito engraçada aquela situação. Pude observá-la e lembrar que os seus conflitos eram bem parecidos com os meus da época. Lembro que passávamos horas conversando sobre o assunto enquanto eu tentava convence-la de que não deveria se preocupar, pois ela se sentiria maismaravilhosa do que nunca e algo extraordinário, que eu não sabia explicar, aconteceria de modo a transformá-la para melhor.
 
Na verdade, esta idade é mesmo um divisor de águas. A partir dos trinta anos a mulher passa para a sua fase SUPER. Daí em diante tudo fica mais claro, pleno, alegre. Inicia-se um processo de aumento da auto confiança, hipersensibilização das ideias, além de uma independência emocional impressionante. Toda aquela agonia que antecedia uma data tão maravilhosa passa a ser simplesmente engraçada com o passar dos anos.
 
Há também as mudanças estruturais e as influenciadas pela gravidade... Mas aí é outro assunto. O melhor é focar nos “superpoderes” adquiridos, que o resto se ajeita. Afinal ser “moça velha” hoje em dia não tem nada de ruim.

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