Andrea Nogueira

08/12/2018 02h08
 
Mulher do trabalho e Homem do lar
 
Já existem tantas mulheres independentes, donas de si, seguras e trabalhadoras, com cargos importantes no mercado de trabalho. Mulheres que acumulam a maternidade com uma vida profissional intensa. Outras apenas com esta última. Algumas com emprego, filhos, marido, e pais idosos para cuidar. Em tempos hodiernos, temos o exercício concreto da multifuncionalidade feminina.
 
Em meio a tudo isso, ouvimos falar de leis, projetos, campanhas institucionais e públicas, além de associações, grupos de apoio e outros com um tema intrigante: a valorização da mulher.
 
Cabe, portanto, uma reflexão: Existem mais mulheres desvalorizadas que homens desvalorizados? Mas o que é uma desvalorização? O dicionário apresenta alguns sinônimos para essa palavra: desmerecimento, desprestígio, descrédito, desabono, desdenho, entre outras. De fato, só buscamos valorizar algo que ainda não tem o devido valor. Do contrário, estaríamos admitindo que boa parte do mundo, incluindo organizações de grande representatividade popular e estatal perdem muito tempo com firulas ou projetos sem necessidade. Assim, se existem grupos trabalhando pela valorização da mulher é porque ela ainda não alcançou o mérito, o prestígio, ou o crédito pelas suas ações ou própria existência.
 
Ainda nessa linha de raciocínio, vale destacar que não é comum encontrarmos organizações sociais ou de caráter público promovendo campanhas de valorização do homem. Desse modo, podemos mesmo concluir que existem mais mulheres desvalorizadas que homens desvalorizados, e que a sociedade está trilhando rumo ao equilíbrio desta questão.
 
Mas a sociedade ainda não compreendeu o teor da tão estimada valorização feminina. Antigamente, existiam ritos específicos para isso: o presentear com rosas, a cessão de uma cadeira, o “deixar passar na frente” numa fila qualquer, a promessa de um bom casamento e até mesmo a garantia do sustento dos filhos pelo patrocínio do homem da casa. Mas os desejos femininos foram mudando ao longo dos anos e ser chamada de linda, por exemplo, já não apetece boa parte das mulheres, pois uma grande maioria já tem autoestima parar reconhecer isso, sozinha, todos os dias. 
 
A busca da valorização hodierna é muito específica: as mulheres querem ocupar cargos jamais ocupados por outras, querem ser desafiadas com novas carreiras e novas responsabilidades, querem reescrever o mundo e transformar o olhar da sociedade sobre o feminino. Muitas mulheres querem o sucesso profissional, mas também querem constituir família. Por isso precisam e querem que os homens cuidem dos seus filhos, fiquem mais em casa e façam atividades iguais as que elas sempre desempenharam dentro das paredes domésticas.
 
Já temos mulheres na política, nas forças armadas, nos canteiros de obras, nas diretorias de grandes empresas e em cargos inimagináveis há 50 anos. Talvez seja necessário agora aumentar o número de homens donos de casa. E se o homem do lar for visto pela sociedade como alguém desvalorizado é porque o mundo realmente precisa rever seus conceitos de equidade e isonomia.
 
Saberemos que a valorização feminina existe de forma plena quando este tema não for mais tão frequente nas rodas de conversa ou campanhas públicas.
 
Mimimi para alguns, assunto sério para outros. Sempre haverá aquele que continuará criticando fortemente atos ou artigos como este que tocam tema tão incômodo. Mas também haverá aquele que, no seu dia a dia, assumirá comportamentos para por fim a ao eterno debate sobre a desvalorização ora comentada. E é nessa sintonia que deixo a sugestão de uma reflexão: falar sobre valorização da mulher é mimimi ou é assunto sério?
 

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