Andrea Nogueira

01/12/2018 20h02
 
A Mulher e a Lei
 
Certa vez ouvi uma estória que vou compartilhar aqui agora: um amigo desabafava contando que, quando passeava num shopping com sua esposa, esta se encantou com lindos brincos expostos numa vitrine. E que depois de vê-la olhando aqueles brincos com tanta concentração, perguntou-lhe o que ela achava deles... “Ahh! São liiindos!!” - disse ela, com aquele olhar de eu quero tanto esses brincos maravilhosos!
 
Meu amigo, que já estava muito cansado de tanto dar voltas pelo shopping e o que mais queria era sair dali, aproveitando a declaração da sua esposa, resolveu unir o útil ao agradável dizendo a ela que lhe presentearia com os brincos no dia do seu aniversário que estava próximo. Mas quando finalmente chegou este dia, os brincos já haviam sido vendidos. Sem problemas, pensou o meu amigo. Mesmo porque haviam outros brincos muito parecidos com aqueles. À noite, levou a amada para jantar num excelente restaurante (daqueles que, segundo ele, só se leva a esposa em datas especiais). Após o jantar romântico, chegou a hora da entrega do tão esperado presente. Até imagino a cena... A caixinha dos brincos refletida nos olhos da esposa... Mas que, ao abri-la, seu olhar ficou distante e inconformado. Percebendo a reação desgostosa da esposa, o meu amigo adiantou as justificativas. Disse que não tinha mais os brincos que ela tinha gostado, mas estes eram muito mais bonitos etc, etc....
 
Comecei a imaginar a cara da esposa. O jantar estava delicioso, o vinho servido ali era perfeito, o ambiente extremamente romântico, mas os brincos... ahh, os brincos não eram os prometidos! Eram muito parecidos, mas o encarrilhado das pedrinhas não tinha a mesma harmonia, e o que ela tinha gostado tinha um ou dois milímetros a mais, além de que eram de pedras levemente amareladas, mas aqueles tinham o tom amarelo um pouquinho mais escuro.
 
Na verdade, esse meu amigo só compreendeu a gravidade de não ter dado à sua esposa o que lhe havia prometido depois de muito tempo. Isso porque em cada nova discussão de casal o assunto dos brincos sempre ressurgia. Porque não eram “os brincos com pedrinhas encarrilhadas harmonicamente e com tonalidade levemente amarelada”.
 
Depois de alguns anos, esse meu amigo já tinha feito cruzeiros maravilhosos com sua esposa, já tinha lhe dado outros presentes como bolsas, roupas, sapatos, mas os brincos com pedrinhas encarrilhadas harmonicamente e com tonalidade levemente amarelada vez por outra voltavam à pauta.
 
Eu conto essa historinha aqui apenas para ilustrar uma realidade: não se promete a uma mulher o que não se pretende ou o que não seja completamente possível de se cumprir. Bem, essa foi a lição que o meu amigo disse que aprendeu.
 
Com essa estorinha e tantas outras semelhantes, eu ouso afirmar que não se trata de uma legalidade desenfreada, mas a mulher, de um modo geral, tem uma característica peculiar: a facilidade em obedecer regras. Esta característica a torna tão legalista que a faz cobrar igual comportamento do demais.
 
Legalismo, por sua vez, pode ser definido como “o relacionamento entre fé e prática baseado na obediência a regras e regulamentos”. Assim, alguém legalista tende a prometer somente o que poderá cumprir, com “efeito dominó” e suas exceções naturais e inevitáveis.
 
A lealdade feminina, portanto, é abastecida com esperança. E a esperança é o reflexo da fé em regras de conduta e da capacidade de obedece-las. 
Claro que as mulheres devem aprender a controlar essa característica para não atrapalhar sua felicidade ao invés de multiplica-la (como no caso da esposa desse meu amigo, que passou a centralizar sua lembrança, raciocínio e amor nos brincos com pedrinhas encarrilhadas harmonicamente e com tonalidade levemente amarelada). Mas a relação da mulher com a Lei é realmente peculiar. Por isso, dados do Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias) mostram que a população carcerária feminina é 17 vezes menor do que a masculina.
 
Sendo a mulher naturalmente legalista, ela tem muita facilidade em acatar ordens e o faz de forma esperançosa. Assim também não aceita que lhe prometam algo que não será cumprido. E se é legalista também tem grande intimidade com a verdade propositiva. Isso é bom? Tomara que sim. 
 

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