Daniel Costa

21/10/2018 11h57
Democracia em perigo
 
 
No momento em que se torna real a  possibilidade de  um político da extrema direita ganhar as eleições presidenciais, o Brasil começa a ventilar o tema da crise democrática. Até então, o discurso oficial foi no sentido do fortalecimento da democracia. Após 1988, acreditou-se que o país havia finalmente encontrado o caminho certo. O progresso seria uma reta sem fim, no melhor modelo positivista. As instituições se encontravam firmes e bem estabelecidas, não havendo espaços para reedições de governos autoritários.  
 
O impeachment de Dilma Roussef, sem amparo legal, soou como um alerta. Mas não chegou a abalar a convicção da maioria das pessoas. Boa parte da população continuou a não ver o perigo que representava a destituição meia-sola de um presidente da república legitimamente eleito e a decretação de prisões provisórias ao arrepio da lei. A verdade é que a Lava Jato e o encarceramento de políticos graúdos nublaram os espaços de reflexão. 
 
Com isso, só agora, a partir dos episódios de violência verificados diuturnamente durante a campanha; dos discursos machistas, racistas e homofóbicos proferidos pelos extremistas; e diante da onda de avisos que chegam do estrangeiro, é que a luz laranja  começa a brilhar na testa de parte dos incautos, fazendo-0s despertar para o risco de morte que sofre a democracia brasileira.
 
No exterior, é de se dizer, a crise mundial do regime democrático já vem sendo debatida há algum tempo. Giorgio Agamben, por exemplo, aponta para o problema do permanente estado de exceção que tomou de assalto as democracias ocidentais. Na mesma linha, o jornalista e escritor Javier Cercas diz que o populismo de hoje é a máscara pós-moderna do totalitarismo dos anos 30, e que a democracia tem que lutar contra ele como lutou contra o totalitarismo. 
 
Por sua vez, o crescimento do populismo autoritário em diversos países da Europa e o nascimento de regimes ditatoriais em países como a Hungria, a Polônia, a Turquia, a Filipinas e a Venezuela, passaram a ocupar as manchetes dos jornais formando pauta para análises de especialistas. A eleição de Donald Trump, nesse sentido, surgiu como mais um elemento para engrossar o cald0 da discussão sobre a fragilidade da liberdade e do desmoronamento do regime democrático.  
 
 Em termos de Brasil, o que se percebe na atual quadra é que esse debate não foi feito oportunamente, quando o caminho do autoritarismo já deixava à mostra alguma evidência; de maneira que hoje, a um passo do término da campanha eleitoral, ninguém sabe se ainda há tempo para uma reconsolidação da democracia, ou se muito em breve os brasileiros estarão ouvindo discursos barrocos e vivendo a tranquila paz dos cemitérios. 

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