Andrea Nogueira

20/10/2018 00h06
A escolha que constrói a isonomia
 
Por muito tempo, mulheres e homens foram representados por uma maioria de gênero masculino. Muito normal e natural tal representação já que a sociedade era impulsionada a acreditar que cada gênero tinha um papel específico no mundo. 
 
De fato, pregou-se por anos seguidos que o gênero masculino era forte e mantenedor enquanto o gênero feminino era frágil e dependente do masculino.
 
Aos poucos, o cenário foi mudando, os pontos de vista foram alterados, as certezas questionadas, os conceitos transformando-se e a realidade convertendo-se.
 
A geração jovem hodierna, de uma forma geral, mas não absoluta, mal consegue conceber diferença entre homens e mulheres no que se refere à capacidade e direito de oportunidades. Salvo exceções, os jovens até sentem-se na obrigação de reparar as injustiças dos anos que os antecederam, numa verdadeira postura de quem adota a justiça como baluarte de sua existência.
 
No tocante à sociedade brasileira, muito já avançamos com relação à prática de atos que impulsionam uma real igualdade de oportunidades. E aos poucos, as pessoas já conseguem perceber que a competência, isoladamente, não alcança a isonomia tão valorizada em nossa Constituição Federal.
Boa parcela da população já percebe que a oportunidade é um fator de isonomia e que o esforço para que ela sobreviva aos nossos interesses pessoais ou políticos é essencial para uma democracia verdadeira.
 
Sim, é necessário um esforço, de fato. Porque é muito simples pregar a igualdade e não empreender ânimo para oportuniza-la. É muito fácil pregar a igualdade entre homens e mulheres e não trilhar caminhos que oportunize a inserção de uma mulher em cargos ocupados unicamente por homens ao longo dos anos. A verdadeira igualdade pode ser alcançada a partir das mulheres e dos homens que percebem essa necessidade.
 
Quem é indiferente à concessão de oportunidades tem um discurso vazio sobre isonomia. Essas pessoas mal percebem que ao seu redor, dentro do seu lar, existe mais de um gênero e que, no futuro, a sua omissão com relação à igualdade de oportunidades irá prejudicar quem está muito próximo.
Um artigo muito interessante que nos impulsiona a olhar mais criticamente para a realidade e conceitos impostos à sociedade com relação à isonomia, da escritora Carla da Silva, destaca que a cisão e a delimitação do público e privado, construídos e potencializados pelas histórias e mitos, no que tange aos papeis sociais da mulher e do homem, vão se cristalizando, tornando verdades absolutas inquestionáveis e santificadas, tecendo-se, assim, a naturalidade da aceitação cultural do lugar da mulher e do homem na sociedade, legitimando a relação de hierarquia do poder entre os gêneros (FONTE: SILVA, Carla da. A desigualdade imposta pelos papéis de homem e mulher: uma possibilidade de construção da igualdade de género. São Paulo: PUC, 2009). 
 
O voto é um dos maiores instrumentos práticos para alcançarmos a isonomia entre homens e mulheres. É a maior expressão do direito de escolha.
No Brasil, já tivemos mulheres ocupando cargos inimagináveis para ela num passado não tão distante. Boa parte desses cargos foi cristalizada por votação popular, outros cargos foram ocupados por votação institucional, outros por votação interna de organizações, outros por partidos, grupos de pessoas, etc. Mas algo comum para TODOS os cargos ocupados por mulheres é que foram frutos de escolhas. Escolhas que não tinham apenas o gênero como critério de eleição, mas que, certamente, oportunizou a isonomia.
 
Que possamos refletir sobre a nossa real disposição para construir a igualdade de gêneros, pois competência sem oportunidade é como uma vela debaixo de uma mesa. Que nossas escolhas sejam condizentes com o nosso discurso e que nossa sociedade seja mais justa e igualitária.
 
 
 
 

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