Andrea Nogueira

06/10/2018 06h30
Voto Útil
 
No ano de 1932 as mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar. Já faz 86 anos. Contudo, apesar do resultado de uma árdua luta feminista, algumas mulheres ainda desperdiçam esse direito, não o valoriza ou simplesmente não compreende sua importância. Falo das mulheres, pois a conquista foi para o feminino. Não significa que todos os homens sabem valorizar o seu direito ao voto. 
 
O direito de votar não veio de graça, sem luta ou sem sofrimento. Hoje, o exercício desse direito é tão natural que corremos o risco de esquecer como foi difícil conquista-lo. Parece clichê falar sobre o assunto, mas precisamos mesmo falar, falar, falar... até cair no coração de cada pessoa.
 
No Brasil, o Rio Grande do Norte foi o primeiro estado a regulamentar seu sistema eleitoral, acrescentando um artigo que definia o sufrágio sem ‘distinção de sexo’. E antes mesmo do Código Eleitoral Brasileiro ser aprovado, estendendo às mulheres o direito ao voto, no sertão Potiguar, na cidade de Lajes, foi eleita uma prefeita. Mas ela não exerceu o mandato, já que a Comissão de Poderes do Senado impediu sua posse, anulando os votos de todas as mulheres da cidade. A vontade popular não foi aceita, prevalecendo a vontade legislativa da época.
 
Sem dúvida alguma, o direito ao voto feminino foi caro e hoje a mulher faz parte do grupo que escolhe. Ela vota. Conquistou o respeito quanto à sua opinião eleitoral. Vota porque pode decidir. Atualmente, mais do que em qualquer outra época, as mulheres têm papel fundamental nas eleições.
 
O direito ao sufrágio é pessoal, intransferível e secreto. É um ato de escolha, de decisão. E para a mulher, o voto é uma expressão de liberdade. O fato de ser obrigatório, não exime ninguém da responsabilidade de respeitar a luta feminista que garantiu a participação das mulheres nas eleições. 
 
As pressões sociais, da mídia, do marketing ou qualquer outra não pode minimizar o direito ao voto ou constranger a vontade de um eleitor. Falam muito sobre um tal de “voto útil”, entendendo ser aquele dirigido à quem certamente será eleito. Como se houvesse voto inútil...
 
Todo voto é útil. Todo voto é importante. Inútil é acreditar que o voto pode ser controlado por uma terceira pessoa. O candidato que hoje não receber tantos votos pode ser o eleito nas eleições seguintes. O voto fortalece o eleitor e o candidato, por isso não há voto inútil.
 
Estamos em tempos que a liberdade de escolha vem sendo afrontada diariamente. O medo de ser rotulado está desencorajando as pessoas a votarem em quem elas já haviam escolhido. O medo de votar em um candidato que, segundo “pesquisas”, não será eleito, faz com que as pessoas substituam sua escolha pela de outrem. E o que vamos construindo com esses votos covardes e desapegados de moral é uma sociedade igualmente covarde e desapegada da moral.
 
As feministas acreditaram que, pelo voto, seriam capazes de solucionar problemas causados por leis injustas que lhes vetavam o acesso ao trabalho e à propriedade, por exemplo. Acreditaram também que poderiam ser elegíveis e que poderiam concorrer de igual pra igual com os homens. Hoje sabemos que algumas dessas crenças já são realidades e que as mulheres têm direito ao voto e à participação política ampla na maioria dos países. 
 
O feminismo tem esse sabor de fé e persistência, por isso não deve ser desmerecido com o voto aquém da vontade de um eleitor ou eleitora. O tempo reafirmará que a nossa liberdade não é vã, que nossas escolhas são somente nossas e que todo voto é útil.
 

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