Andrea Nogueira

29/09/2018 00h05
Ficar ou sair?
 
Havia uma mulher numa rua distante de um vilarejo desconhecido. Havia outra mulher com residência próxima, numa cidade tão conhecida e próspera. Haviam pessoas que conheciam essas mulheres, mas não aceitavam seus comportamentos, suas escolhas, suas dores. Havia quem fizesse julgamentos e quem sentisse dó, mas não havia quem realmente compreendesse o que acontecia com aquelas mulheres...
 
Incontáveis organizações da sociedade civil agem no combate à violência contra a mulher. O Estado, através de políticas públicas e ações concretas também age nesse combate. Contudo, ainda é impossível enxergar o final desta cruel violência.
São perguntas comuns: “por que ela aguenta isso?”, “por que não o abandona?”, “por que não denuncia?”. E ainda sobram julgamentos: “ela gosta de apanhar”, “ela merece”, “ela não tem vergonha na cara”.
 
O principal instrumento legal de combate à violência contra a mulher brasileira é a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que “cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, que é entendida como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. Contamos também com a Lei nº 13.104/2015, conhecida Lei do Feminicídio (homicídio de mulher por razão de gênero).
 
A violência doméstica e familiar tem graves consequências para as mulheres, seus filhos e o conjunto da sociedade. Estudos comprovam que as mulheres vítimas de violência têm vários problemas de saúde e menor capacidade de obter rendimentos e de participar na vida pública. Como se não bastasse, seus filhos correm muito mais riscos de ter problemas de saúde, baixo rendimento escolar e distúrbios do comportamento. São tantos prejuízos para a sociedade e para o indivíduo que chegam a ser incomputáveis.
Com bastante frequência ouvimos histórias de mulheres que sofrem algum tipo de violência doméstica. São mulheres conhecidas ou desconhecidas, pobres ou ricas, letradas ou analfabetas, solteiras ou casadas, fortes ou frágeis, com uma carreira ou desempregadas. São todas mulheres. São protagonistas de histórias semelhantes. São pessoas que encontraram no amor a sua própria dor. 
Mas hoje não queremos falar apenas da violência e dos seus prejuízos. Voltemos o nosso olhar para as MULHERES. Elas sofrem. Elas não gostam da dor. Nenhuma mulher sonha com o dia de apanhar, sofrer humilhação, ser duramente criticada ou ter subtraídos os seus bens. Elas desejam cessar o sofrimento.
 
São tantas informações à disposição, são tantos amigos estendendo a mão, pais preocupados, irmãos prontos para ajuda-las, mas a situação persiste porque cada uma tem o seu tempo.
 
Uma instituição sem fins lucrativos cujo objetivo é usar a informação para combater os diversos tipos de violência que atingem mulheres brasileiras, a “AzMina” publicou o seguinte conselho de empoderamento feminino: “Se conhecer uma mulher vítima de violência doméstica, informe-a e dê apoio emocional – mas jamais cobre uma atitude dela. Ela fará isso quando estiver pronta”.
De fato, nenhum estudo consegue definir o caminho exato para sair de uma situação de violência. Esse caminho é tão variável que chega a ser indefinido, pois depende também da pessoa que sofre a violência. É como estar diante de uma porta aberta e não conseguir sair por ela. É dor, não é prazer. É dor de amor, de medo, de incerteza, de esperança.
 
Que possamos realmente refletir e nos irmanar com mulheres vítimas de violência, sem julgamentos, sem condenações. E que possamos instrui-la, informando-a sobre seus direitos, seu valor, sua importância, sua capacidade, para que ela possa enxergar a porta aberta ao seu lado e finalmente ir em sua direção, ultrapassa-la e receber de volta a sua liberdade. Isso, porque a informação ainda é o instrumento mais eficaz no combate à violência.
   
 

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