Daniel Costa

25/09/2018 09h42
Por Dabiel Costa:
 
Bolsonaro para ditador
 
A duas semanas das eleições presidenciais, é quase certo que Bolsonaro chegará ao segundo turno. Surfando na onda do antipetismo e do discurso populista da solução fácil para problemas complexos, o candidato e o seu séquito ganham adeptos e se sentem confortáveis para antecipar as medidas autoritárias que pretendem impor em caso de triunfo.
 
Da alteração do texto constitucional, sem a participação do legislativo, passando por um "autogolpe" com o apoio das Forças Armadas, chegando à ingerência na composição do Supremo Tribunal Federal, tudo é dito de forma clara, sem subterfúgios, deixando evidente que na hipótese de vitória o país logo será refém de vontades e interesses particulares.
 
Nenhum dos outros concorrentes propõe tamanha afronta ao Estado democrático de direito. Na verdade, Bolsonaro segue à risca o manual dos ditadores. Para se ter uma ideia, até mesmo Hugo Chávez, uma espécie de modelo de autocrata para certas pessoas, jamais se meteu a rechaçar a Assembléia Nacional almejando modificar a Constituição.
 
O pior de tudo é que o discurso do capitão reformado não é apenas talhado pelo oportunismo, como pode parecer aos mais açodados. Ele é fruto de uma linha de pensamento desde sempre exposta, como faz ver a sua declaração à TV Bandeirantes em 1999, quando afirmou que o país só mudaria depois de uma guerra civil e da matança de umas 30 mil pessoas (da oposição, claro). De maneira que é ingenuidade conceber se tratar de pura retórica, imaginando que o candidato irá refugar essas ideias caso alcance o poder central. Não por outra razão, a revista The Economist, referência liberal em todo o mundo, classificou Bolsonaro como "A mais recente ameaça da América Latina", uma espécie de "tentação de Pinochet".
 
É assombroso ver, assim, como as pessoas se deixam levar pelo ranço ideológico e pelo discurso simplista, sem avaliar a situação com a cabeça voltada para o período em que o país foi conduzido por ditadores, quando funcionários públicos eram demitidos ou aposentados compulsoriamente por criticar o governo; órgãos como o Judiciário e o Ministério Público manietados na base de atos institucionais; a imprensa amordaçada; e inúmeros políticos cassados, inclusive aqueles que inicialmente apoiaram o regime; não esquecendo da lista de violências, tão longa quanto chocante, de torturas, estupros e mortes, ficando marcado o caso de um famoso opositor, de 64 anos, que foi amarrado na traseira de um jipe do exército e então arrastado pelos bairros do Recife como um troféu.
 
Nenhum dos outros aspirantes ao posto presidencial pode ser considerado pior do que um candidato que está a dobrar o cabo da democracia em direção a um regime de força. A grande ficha uma hora vai cair. E os eleitores de Bolsonaro, caso o desastre aconteça, levarão consigo a culpa moral e política de terem colocado o Brasil no barco de uma tragédia que se mostrava anunciada.

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