Andrea Nogueira

01/09/2018 12h33

Política é feminino

Há quem diga que política é vocação. Outros afirmam que é o resultado de um processo de aprendizagem. Algo bem acertado, contudo, é que ela existe para o coletivo e para o bem comum. A política não está sendo bem compreendida pela sociedade e quando alguém realiza um trabalho dirigido ao bem coletivo é comum começarem os questionamentos sobre as “verdadeiras intenções” dela.

Ao consultar o dicionário, verificamos que a política é a arte de governar. Governar, por sua vez, significa ter mando, dirigir, administrar. De fato, é a política que transforma a sociedade e ela existe para o povo, para todos. Não se faz política para si mesmo. Faz para o outro. Aliás, para os outros, para o coletivo. Já afirmava Aristóteles: “a política é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade”.

No que pese o estigma de desonestidade ou mancha social, a política é necessária e indestrutível. Todos praticam política em algum momento de sua vida: na escola, em grupos de estudo, no condomínio ou bairro, no ambiente de trabalho, na igreja, etc.

A política está tão enraizada nas pessoas que a decisão de não participar dela termina sendo uma ação política também. É uma terrível ação através da própria omissão, pois quando deixamos de participar da vida política, contribuímos para dificultar as mudanças, deixando as coisas como estão e atingindo negativamente toda a coletividade.

Política é um substantivo feminino. Coincidentemente, as mulheres são muito familiarizadas com algumas de suas características.

A mulher é uma política nata. Desde os primórdios, elas exerceram suas atividades pelo bem comum de sua família. A família da mulher, ao longo de muitos anos, era a “coletividade” beneficiada por suas ações.

Porquanto não lhe era permitido atuar fora das paredes do lar, seu mundo político resumia-se ali, mas sempre foi tão elogiado que até hoje algumas pessoas querem insistir na ideia de que o homem não faria melhor. Coitados dos homens, a sociedade precisa dar essa chance também a eles...

Toda essa maestria da mulher na condução do lar, dos seus componentes e das atividades por ela coordenadas em prol do bem comum nos faz concluir que ela SEMPRE exerceu sua atividade política com profunda vocação e extrema competência.

Hodiernamente as mulheres estão além das barreiras do lar. Coincidentemente, sua atuação no mercado de trabalho, economia, direção empresarial no mundo público ou privado estão impressionando a sociedade de tal modo que merecem as primeiras páginas de jornais e destaques de noticiários por anos seguidos.

De fato, as mulheres ultrapassaram as paredes dos seus lares. A nova mulher vem quebrando tabus, revolucionando tradições, marcando presença em lugares antes restritos aos homens. Ela está reescrevendo a história e sua vocação à política parece assustar alguns que insistem em barrar ou simplesmente dificultar seu ingresso em cargos de decisão.

De forma nada rara, nos deparamos com grupos institucionais monopolizadores que são verdadeiros instrumentos de domínio. Esses grupos não admitem o crescimento de alguém com características de chefia ou liderança, senão acabariam cedendo a cadeira do poder. Assim, liderado por uma ou duas pessoas com real capacidade de aglomerar seguidores, o grupo segue com os mesmos coordenadores e os mesmos coordenados por anos seguidos.

Quando alguém desse grupo, que não ocupa cargo de decisão, resolve reclamar do posto que ocupa, ou simplesmente aponta ideias inovadoras que lhe forjam uma escada para o topo, lhe são dadas duas opções: 1) a sensação de promoção ou 2) a saída do grupo.

Se a sensação de promoção for suficiente para aquietar, fica tudo resolvido e o grupo seguirá com os mesmos líderes e mesmos liderados. Importa destacar que a referida “promoção” jamais acontece de fato, pois suas decisões sempre estarão condicionadas à aprovação do chefe/poder maior. E nesse bailar, permanecem os coordenadores e os coordenados, sem uma real alternância de poder.

Quando a “promoção” não convence, sendo percebida como simples manobra para “manutenção da ordem”, resta a esta pessoa sair do grupo.
E quando essa pessoa é uma mulher? Se já é difícil para um homem enfrentar os grupos que gostam de se perpetuar, imagine para uma mulher que carrega todo um estigma, apesar de velado, de representante do lar.

Neste ponto, é importante reconhecer que cabe à coletividade de mulheres se fazer ouvir e trabalhar para que uma alcance um cargo com poder real de decisão. Certamente a mulher, que é líder nata e multifuncional, passando a integrar a sociedade como alguém que provoca mudanças sociais, estruturais e políticas, abrirá a porta para outra mulher com muito mais facilidade.


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