Daniel Costa

15/08/2018 13h30
Dia do Advogado - Nada a comemorar
 
No último 11 de agosto os advogados comemoraram o seu dia. Comemoraram é força de expressão, já que não há nada a ser comemorado. Ao menos para a maior parte dos causídicos que compõe uma classe atualmente com cerca de 1 milhão de membros espalhados pelo país. 
 
Em uma recente entrevista, o sociólogo Bolívar Lamounier disse que a advoca-cia está em baixa. Os advogados não fazem mais parte de uma elite política; os seus salários são condizentes com as pessoas de classe média baixa; e eles, em sua maioria, não têm grandes conhecimentos, se atendo às lições da época da faculdade adquiridas por meio de manuais técnicos. Não entendem de política, não conhecem as questões sociais, não leem muito e são alienados defensores das ideias reproduzidas pelo homem comum. 
As palavras desse eminente sociólogo fizeram lembrar-me do grande Bob Dylan. O músico americano escreveu que em um determinado período de sua vida, en-trou em depressão depois de perceber que tinha virado uma espécie de administrador de carreira. A sua fama havia alcançado grandiosidade tal que todos os seus pensamentos estavam voltados para fãs e dinheiro. Em termos concretos, ele não era mais um músico. 
 
Não é que os advogados estejam hoje preocupados em administrar  a sua fama. Nada disso, querido leitor. O que estou querendo dizer, é que a maioria dos causídicos não consegue mais se voltar para o estudo do direito, ou para o conhecimento da políti-ca, como acontecia antigamente. A sua preocupação urgente é a de se manter vivo no mercado de trabalho. É permanecer nos contornos  da classe média para não precisar, depois do horário de expediente, virar motorista de Uber ou se tornar um vendedor de cachorro-quente. É por isso que eles hoje são menos advogados e mais administradores de carreira. Não há espaço para se dedicarem à "música". Os advogados só pensam em aumentar a sua carta de clientes. Em outras palavras, a advocacia virou comércio.
 
Essa é uma realidade inescapável. Daí as propagandas veladas por meio de per-fis nas redes sociais; das mini-aulas reproduzidas no youtube e das matérias pagas com fotos das bancas de advocacia para serem estampadas nas capas de revistas. Quase tudo que eles fazem é promoção voltada para arrebanhar fregueses. Assim, dentro desse pano-rama, quando uns estão engolindo os outros num mercado em que se formam quase oi-tocentos bacharéis por ano só no Rio Grande do Norte, não sobra disposição para pensar em política ou em sociologia do direito. Como certa vez um colega de profissão me confidenciou: "hoje vou às festas de casamento pensando em quantos clientes poderei angariar". 
 
O pior de tudo, é que não existe perspectiva para mudança neste cenário, prin-cipalmente quando se sabe que o MEC liberou a criação de 34 novos cursos de direito no país, e já autorizou até mesmo curso de tecnólogo em serviços jurídicos. Isso sem falar no fato de o exame de ordem ter-se tornado um verdadeiro caça-níquel, com a aju-da da própria Ordem dos Advogados do Brasil, que sem qualquer preocupação com a real qualidade dos futuros patronos, divulga abertamente cursinhos do tipo pré-vestibular voltados para o tal exame, contribuindo, dessa forma, para a "proletarização" da profissão; o que vai na contramão da conclusão alcançada por Bolívar Lamounier, para quem a sociedade precisaria hoje de muito menos advogados, porém mais bem qua-lificados, já que esse um milhão de profissionais com baixa qualificação não é uma boa solução para a prestação de justiça no Brasil.  
 

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