Valério Mesquita

16/07/2018 09h47
01) O ex-deputado, secretário de estado e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Manoel de Medeiros Brito é dono de um repertório de histórias nascidas do seu “fairplay”, “savoir vivre” e bom humor. Completou noventa primaveras semana passada. São necessários três idiomas para definir a extraordinária espirituosidade de uma vivencia tão rica de situações e fina hilariedade. O jornalista João Batista Machado que o chama de “Brito Velho”, alusão ao ex-deputado federal gaúcho, possui um longo repertório e causos e acontecências colhidos ao longo de sua vida pública.
 
02) Certa vez, estava no interior, quando veio o apelo irresistível de uma cachacinha. O seu fiel escudeiro era Raul, motorista. “Raul”, recomenda Brito, com parcimônia, “veja se encontra nesses botecos uma cachaça pelo menos razoável”. Empreendida a busca, volta Raul com a recomendação protocolar: “Dr. Brito, tem umas, mas não são de boa qualidade”. Brito, sediço e aliciador, sentencia: “Seu Raul, ruim é não ter”.
 
03) Brito é um exímio apreciador da “pinga” nordestina. Degusta o precioso líquido como se fosse um príncipe do semiárido. Como Secretário do Interior e Justiça, Brito gostava de integrar a comitiva oficial às reuniões da Sudene em Recife. E explicava ao jornalista Machadinho: “eu vou porque lá é tudo muito bom e barato”. Mas nunca perdia o paladar de uma branquinha. Na capital do frevo, encontrava sempre o amigo Raimundo Nonato Borba, chefe da Representação do Rio Grande do Norte junto à Sudene. Como é do seu hábito, arranjou-lhe logo um apelido: Borba Gato. E no trajeto do aeroporto à Sudene, do banco traseiro Brito avisava: “Borba Gato, não se descuide de parar antes num boteco para eu beber um “rabo de lagartixa”.
 
04) O Palácio Campo das Princesas, em Recife, era o local refinado das reuniões da Sudene para os convescotes e rega-bofes do mundo oficial do Nordeste. Num desses eventos gastronômicos, estava presente o então Secretário da Indústria e Comércio do Rio Grande do Norte, Jussier Santos. Conhecido pela sua finesse, foi logo se servindo de champignon e sugerindo a Brito para provar aquela delícia. E esse responde de bate-pronto: “Jussier, eu não como frieira”.
 
05) Em outro almoço, alguém da comitiva oficial do Rio Grande do Norte provoca Brito, ao avistar apetitosos camarões: “Brito, sinta o cheiro inconfundível”. Este, com aquele olhar jardinense do Seridó, corrige: “In, não. Cheiro confundível!”.
 
06) Numa conversa descontraída, perguntaram a Brito qual a sua definição sobre o casamento. De bate pronto, fulmina: “uma ilusão gratulatória”. De outra feita, Afonso, um dos seus motoristas da atividade oficial, recebeu dele um apelido que exprimia fielmente o significado de suas proezas de paquerador. Afonso era baixinho, entroncado, mas era querido do mulheril funcional que beirava a menopausa. E Afonso “passava” as gordinhas, mal-amadas, pernetas, num comovente “ofício de caridade”. Sabedor de suas façanhas, Brito desfechou-lhe um apelido definitivo: “Areia de Cemitério”. Come tudo.
 
07) Raul, foi um dos seus últimos motoristas. Em Mossoró, na residência do casal Edith/Soutinho foi servido um lauto jantar a comitiva política que visitava Mossoró. Raul, muito displicente e acanhado, perdeu o jantar que D. Edith, mulher política e sensível, fazia questão de estender aos motoristas as mesma iguarias que eram servidas aos convidados. Às 11 da noite, Brito dá o sinal de largada com retorno à Natal. No caminho, impressionado com o lauto rega-bofe, ao lado de Machadinho, indaga a Raul: “jantou bem?”. “Não senhor”, reponde o tímido motorista. “O quê? Um belo jantar desse você perdeu?”. Já em Natal, Manoel de Brito não conteve o comentário: “Raul, amigo velho, pomba mole nem no céu entra!!”. Raul aprendeu a lição.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).