Andrezza Tavares

06/06/2018 10h26
Cultura é uma condição integralmente humana que conduz os grupos humanos às suas múltiplas relações (sociais, econômicas, políticas, educacionais...) presentes e suas perspectivas de futuro. A cultura é contingenciada por transformações, movidas por forças internas, em consequência de contatos e de conflitos. 
 
O estudo da cultura é relevante para o combate a preconceitos pois possibilita reflexividades que tributam para o respeito e a dignidade nas relações humanas. A compreensão do conceito de cultura exige que se pense sobre a diversidade e pluralidade dos povos, nações, sociedades e grupos humanos, em processo de interação. Cada realidade cultural tem sua própria lógica interna que é distinta e específica. É importante desenvolver o olhar relativista sobre essa diversidade. Saber se há uma realidade cultural comum a uma sociedade é uma questão importante. A antropologia cultural investiga também sobre a necessidade de relacionar as manifestações e dimensões culturais com as diferentes classes e grupos que a constituem. 
 
A discussão sobre cultura pode nos ajudar a pensar sobre nossa própria realidade social, e sobre os sentidos das diversidades. Compreendendo a cultura das sociedades, se compreende a história de cada agrupamento por meio das maneiras de organizar e transformar a vida em sociedade, de superar os conflitos de interesse, as tensões geradas na vida social, as suas relações com outras culturas.
 
Historicamente, Cultura passou a ser uma preocupação de pensadores engajados em interpretar a história humana, em compreender a particularidade dos costumes e crenças, em entender o desenvolvimento dos povos no contexto das condições materiais em que se desenvolviam no século XIX. Nesse período se tornou dominante a visão laica, quer dizer, não-religiosa, do mundo social e da vida humana. Até então o cristianismo tivera força para se impor na definição de práticas e comportamentos. A visão de mundo cristã oferecia à Europa os modelos principais que ordenavam o conhecimento e a interpretação do mundo e das relações sociais. Assim a moderna preocupação com cultura nasceu associada tanto a necessidades do conhecimento quanto às realidades da dominação política. O importante para pensarmos as realidades culturais é entender o processo histórico que a produz, as relações de poder e o confronto de interesses dentro da sociedade.
 
 É uma atitude imatura e opressora do pensamento humano, hierarquizar as culturas segundo algum critério, subjugando uns aos outros. A postura etnocêntrica da avaliação cultural humana promove que as sociedades humanas sejam visualizadas em escalas evolutivas, de uma evolução em linha única. Sobre isso, a antropologia cultural criticamente nos lembra que a diversidade de sociedades existentes no século XIX representaria estágios diferentes da evolução humana: sociedades indígenas da Amazônia poderiam ser classificadas no estágio da selvageria; reinos africanos, no estágio da barbárie. Quanto à Europa classificada no estágio da civilização, considerava-se que ela já teria passado por aqueles outros estágios. A lógica da concepção de evolução linear foi superada a partir da ideia de que cada cultura tem a sua própria verdade e que a classificação dessas culturas em escalas hierarquizadas era impossível, dada a multiplicidade de critérios culturais. 
 
Para a antropologia cultural progressista a diversidade das culturas existentes acompanha a variedade da história humana, expressa possibilidades de vida social organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a natureza. A ideia de uma linha de evolução única para as sociedades humanas representa uma classificação ingênua e opressora que está ligada inexoravelmente ao preconceito e a discriminação racial. As observações de cultura alheia se fazem segundo pontos de vista subjetivos e individuais definidos pela cultura do próprio observador. Não se pode esquecer que os critérios que se usa para classificar uma cultura são também culturais. Pensar assim é importante pois no desenvolver de toda iniciativa de avaliação de culturas ou de traços culturais tudo é relativo.
 
O relativismo cultural propõe o respeito a diversidade cultural a partir do entendimento das culturas particulares na história mundial. Nessa lógica, não há superioridade ou inferioridade de culturas ou traços culturais de modo absoluto, não há nenhuma lei natural que diga que as características de uma cultura a façam superior a outras. 
 
Por cultura se entende muitos sentidos... É comum o termo Cultura está associada a estudo, educação, formação escolar. Porém, cultura diz respeito a tudo que caracteriza a existência social de um povo ou de uma nação. Conforme já pontuado, cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural, não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana. Uma das características de muitas das sociedades contemporâneas, inclusive a nossa própria, é a grande diversificação interna. 
 
As preocupações com os estudos da cultura popular buscam compreender as manifestações das formas de pensamento e de ação das populações mais humildes de uma sociedade, buscando o que há de específico nelas, procurando entender a sua lógica interna, sua dinâmica e, principalmente, as implicações políticas que possam ter. 
 
Ao contrário da cultura de massa, as modernas sociedades são consideradas como sociedades de massa, onde as instituições dominantes têm de prover e até mesmo criar as necessidades de multidões e de seus participantes anônimos, da mesma forma que desenvolvem mecanismos eficazes para controlar essas massas humanas, fazê-las produzir, consumir e se conformar com seus destinos e sonhos. 
 
Os conceitos de cultura e de nação possuem relações antigas. Ambos são campos de reflexão associados. Cultura e nação são dimensões de referência necessárias para se entender o mundo contemporâneo. Pode-se, assim, entender a cultura nacional como a cultura comum de uma sociedade nacional, uma dimensão dinâmica e viva, importante nos processos internos dessa sociedade, importante para entender as relações internacionais. Inclusive, é importante ressaltar que a ciência e a tecnologia são aspectos da cultura por causa do impacto direto que têm nos destinos das sociedades atuais. O seu controle é um dos aspectos das relações de poder contemporâneas. A cultura em nossa sociedade não é imune às relações de dominação que a caracterizam. 
 
Não se deve pensar sobre cultura ignorando as relações de poder dentro de uma sociedade ou entre sociedades (grifos nossos). Elas se consolidaram junto com o processo de formação de nações modernas dominadas por uma classe social. As preocupações com cultura surgiram assim associadas tanto ao progresso da sociedade e do conhecimento quanto a novas formas de dominação. Hoje em dia os centros de poder da sociedade se preocupam com a cultura, procuram defini-la, entendê-la, controlá-la, agir sobre seu desenvolvimento. 
 
Assim, podemos concluir que as realidades culturais são diversas, não são absolutas, não respondem a exigências naturais, mas sim que são históricas e sujeitas às transformações (grifos nossos).
Para encerramento da conversa, quando se estuda sobre cultura é fundamental estabelecer as seguintes proposições: 1) elaborar uma noção básica de cultura; 2) superar a definição de cultura como única, verdadeira e exata; 3) captar a área conceitual ideológica em que se está trabalhando no momento; 4) distinguir claramente cultura de outros termos próximos ou costumeiramente aproximados; 5) perceber e diferenciar os enfoques mais constantes e mais ricos de cultura, a saber, o enfoque filosófico, o humanista, o etnológico e o da antropologia cultural. 
 
REFERÊNCIA 
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. 14 ed. ¬¬¬- São Paulo: Brasiliense, 1994. – (Coleção primeiros passos; 110).
 

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