Andrezza Tavares

29/05/2018 11h23
Dra. Andrezza M. B. do N. Tavares  e
Prof. Dr. Fábio Araújo dos Santos
 
Inicia-se este artigo indagando-se a respeito do significado de pesquisa científica, como também da sua importância na formação e atuação docente com o intuito de que esse conhecimento possa ser vivenciado entre alunos, principalmente, no nível do ensino médio profissional e tecnológico. O artigo ora apresentado se constitui em uma pesquisa básica decorrente de uma revisão bibliográfica e documental e está estruturado no seguinte formato: inicialmente, visa-se elucidar alguns conceitos de pesquisa, mas especificamente, da pesquisa no contexto da educação.
 
O julgamento de uma pesquisa: quais os critérios básicos de cientificidade? Como afirma Miranda (2000), na área da educação, muitas vezes os pesquisadores estão fazendo ações ou intervenções e não investigações científicas segundo os critérios mínimos (Boaventura de Sousa Santos, 1988). 
 
Todavia, antes dessa problemática em definir quais critérios são essenciais a uma pesquisa científica, vale salientar também a flexibilidade e as especificidades de cada pesquisa como ressaltam Licoln e Guba (1985) e Ludkë (2009). André (2001, p. 58), nessa perspectiva explicita que: Os clássicos critérios de validade, fidedignidade, generalização seriam suficientes? Ou se deve recorrer a novos critérios? Quem definiria esses novos critérios? Seriam apoiados em que concepção de conhecimento? 
 
Essas questões começaram a surgir no final do século XIX, quando os cientistas sociais questionaram o modelo tradicional de pesquisa, julgando-o insatisfatório para a compreensão dos fenômenos humanos e sociais. As críticas naquele momento, dirigem-se não só aos pressupostos e aos métodos de pesquisa, mas também aos critérios tradicionalmente utilizados para julgar os trabalhos científicos. 
 
A partir dessas reflexões busca-se responder quais seriam esses critérios mais adequados para todos os tipos de pesquisa? Deveriam existir critérios mais gerais e outros mais específicos? Quem seriam os responsáveis por determinar ou referendar tais princípios? Ou seria mais interessante compreender que os critérios clássicos seriam suficientes para elucidar uma boa pesquisa? 
 
Pensando nos critérios clássicos, que não são absolutos, mas podem ser parâmetros de credibilidade ou mesmo sugestões de cuidados no trato do trabalho científico. Eis alguns que possibilitam avaliar e considerar um estudo como científico: 1. Questionamento - O espírito crítico favorece que os dados sejam permanentemente postos à prova possibilitando evitar uma visão unilateral da realidade objetiva. 2. Verificabilidade - A escolha de métodos e técnicas possui a característica de validar resultados desde que as estratégias escolhidas sejam as mais adequadas para a pesquisa em questão. 3. Falibilidade – A ciência gera “verdades” provisórias e históricas, os resultados de hoje podem ser diferentes em outra situação ou momento. 4. Objetividade – A relação sujeito- objeto do conhecimento implica numa postura dialógica, onde não há neutralidade absoluta por parte do cientista e sim um cuidadosotrabalho para eliminar as interferências da subjetividade do pesquisador. 5. Racionalidade – O conhecimento científico se qualifica quando apresenta consistência na compreensão da teoria ultrapassando a descrição fatual 6. Fidedignidade – Os resultados de uma pesquisa devem seguir o princípio da generalização dos dados e possa ser contestado considerando margens de erros seguros. 7. Consistência teórico-conceitual – A capacidade explicativa interpretada com o uso de termos técnicos e linguagem científica trazem visibilidade a qualidade da pesquisa, pois evita dubiedades e imprecisões. 8. Universalidade - Princípio que permite abrir a pesquisa científica a toda pessoa que procura produzir conhecimento teórico e/ou prático na tentativa de isenção de posicionamentos dogmáticos e fechados. 9. Transparência e divulgação de resultados - Direito dos cidadãos compartilhar os resultados das pesquisas nos diversos campos científicos, tendo em vista o bem da coletividade. 
Concordando com André (2001), assume-se a perspectiva crítica sobre a insuficiência desses critérios adotados como “universais” a todas as pesquisas. Compreende-se que devido aos contextos, objetos e objetivos de pesquisa específicos e diversos torna-se difícil elencarmos critérios padrões e universais, embora, reflita-se que eles são importantes como critérios gerais que deverão constar em qualquer pesquisa, mas restringir-se aos mesmos, seria inibir e limitar as potencialidades de cada pesquisa e seus resultados. 
 
É preciso, ainda, a estes, incluir a postura ética do pesquisador que também de forma significativa, qualifica a pesquisa, pois suas escolhas e inferências devem ser orientadas pelo respeito e honestidade em relação às fontes de informação e sua análise. Para discutir sobre os critérios gerais de cientificidade nas pesquisas tem-se como parâmetros a CAPES por se constituir uma das principais instituições reguladoras dos trabalhos científicos e acadêmicos no país. 
 
Elencando alguns critérios de acordo com essa agência de fomento às pesquisas científicas têm-se a obrigação de um objeto bem definido como também os objetivos claros, a metodologia bem definida. Como afirma André (2001, p. 59) esses critérios podem ser definidos da seguinte maneira: “Um objeto bem definido, que os objetivos ou questões sejam claramente formulados, que a metodologia seja adequada aos objetivos e os procedimentos metodológicos suficientemente descritos e justificados”. E ainda acrescenta que “A análise deve ser densa, fundamentada. [...] deve ficar evidente o avanço do conhecimento”. (p. 59).
 
Autores como Zeichner (2009) e Dadds (1995) afirmam que além dos critérios mencionados acima devem ser destacados o conhecimento gerado pela pesquisa; a qualidade do texto produzido; o impacto da pesquisa na prática e amadurecimento intelectual do pesquisador e a qualidade da colaboração na pesquisa. Outra proposta relativa aos critérios de cientificidade é elaborada por Anderson e Herr (1999), justamente por reconhecer as limitações dos critérios considerados “universais” nas pesquisas tradicionais. 
 
Na sua proposta, elementos como a validade externa, a validade do processo, a validade democrática, a validade catalítica e a validade dialógica constituem-se em elementoschave para se pensar/fazer pesquisa atualmente. Outro ponto a destacar remete-se à falta de domínio dos pressupostos dos métodos e técnicas. 
 
Autores como André (1995, 1997, 2001), Gatti (2000) e outros em suas revisões de pesquisas apontam para a fragilidade metodológica como uma das principais lacunas nos trabalhos de natureza científica, principalmente, na área da educação. 
 
Essa fragilidade acontece, sobretudo, pelos pesquisadores na área da educação, muitas vezes se referendarem apenas por critérios tradicionais de validade científica, e, consequentemente, restringirem o número limitado de observações e de sujeitos, reduzirem excessivamente o recorte da realidade a ser investigada, pela utilização de instrumentos precários no tocante ao levantamento de dados e também pelas técnicas de análises pouco fundamentadas e interpretações sem certo respaldo teórico. 
 
De acordo com Gatti (2000, p. 12) acerca dessas fragilidades metodológicas ressalta que: [...] verificamos hipóteses mal colocadas, variáveis pouco operacionalizadas ou operacionalizadas de modo inadequado, quase nenhuma preocupação com a validade e a fidedignidade dos instrumentos de medida, variáveis tomadas como independentes sem o serem, modelos estatísticos aplicados a medidas que não suportam suas exigências básicas, por exemplo de continuidade, intervalaridade, proporcionalidade [...].
 
A autora também chama a atenção para as fragilidades metodológicas nas pesquisas qualitativas em educação, principalmente ao apontar algumas lacunas como: [...] observações casuísticas, sem parâmetros teóricos, a descrição do óbvio, [...] análises de conteúdo realizadas sem metodologia clara, incapacidade de reconstrução do dado e de percepção crítica dos vieses situacionais, desconhecimento no trato da história e de estórias, precariedade na documentação e na análise documental. (Gatti, 2000, p. 12). 
 
Para a maioria dos autores a lacuna referente aos pressupostos metodológicos se torna crucial para a(in) qualidade de uma pesquisa. No entanto, a maioria das pesquisas ainda, na atualidade revelam tais lacunas o que, de imediato, reflete-se na séria consideração que elas devem ter como foco na formação dos estudantes do ensino médio, graduandos e pós-graduandos, bem como professores.
 
A partir das reflexões desencadeadas nesse artigo percebe-se que precisamos qualificar o trabalho científico produzidos no universo das escolas e das universidades, visto que, além da pesquisa se constituir em uma das premissas básicas na formação do estudante e do professor, essa não vem sendo desenvolvida, muitas vezes, com o rigor necessário de cientificidade bem como as questões de estudos são estudadas de forma muito ampla ou muito reduzida nesses contextos. 
 
As deficiências oriundas dessa (de) formação implicam, geralmente, equívocos conceituais e estruturais relacionadas as etapas da elaboração de uma pesquisa, os métodos mais adequados para objetivos e contextos de pesquisa diversos, pressupostos teóricos pouco aprofundados, enfim, são muitas as lacunas resultantes de um processo pouco, ou em alguns casos não vivenciado em termos de produção do trabalho científico nos espaços escolares e universitários.
 

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