Wellington Duarte

23/05/2018 09h28
O Rio Grande do Norte, em termos históricos, tem pouco mais de 400 anos, entendendo-se que se pode aceitar (ou não) o início das tentativas de ocupação do nosso território nos idos dos anos 30 do século XVI. O tardio RN só entra na história em fins do século XVIII, depois de uma guerra genocida que quase exterminou todos os antigos habitantes da região, embora não se encontre uma estátua no RN que se refira a esse genocídio.
 
A história do RN durante muito tempo só foi conhecida pelos pesquisadores que tinham persistência para caçar documentos, enquanto a esmagadora maioria da população conhecia a “história” do RN a partir dos que possuíam a “propriedade da narrativa” e assim construímos, no nosso imaginário, mitos e semideuses locais, e podemos encontra-los em bustos, nomes de ruas, museus, etc.
 
A nova geração de pesquisadores, vindos a partir de momento histórico recente, permitiu que se conhecesse melhor a nossa história e a imagem que começa a ser reconstruída é de um espaço moldado e formado por uma elite que nasceu sob a proteção do Estado; que se apropriou das terras locais sob a proteção do Estado; que garantiu suas propriedades sob a proteção do Estado e que enriqueceu sob a proteção do Estado. Basta dar uma olhada na nossa história e veremos, de pronto, que a elite local sempre foi dependente do Estado, apropriando-se dele e privatizando-o em seu benefício.
 
O mapa geográfico do RN, que de acordo com o IBGE tem 4 grandes mesorregiões (Oeste, Agreste, Leste e Central), entendida como unidades territoriais com características físicas, econômicas e sociais homogêneas e mais 19 microrregiões, conceito cravado na Constituição de 1988, servindo para agrupar municípios limítrofes, tornando viável a  integração,  organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum, mostra que os espaços de poder foram construídos a partir das fazendas de gado e que a elite local forjou-se a partir dessas atividades, tornando o peso político dessas elites a principal forjadora das oligarquias.
 
Esse tecido econômico e social pode muito bem ser visto pela própria história econômica do RN, principalmente com a entrada na história da República, quando o Estado passou a ser governado por suas próprias elites, com a chegada dos Albuquerque Maranhão ao poder e lá se mantendo até a primeira década do século XX, quando sua base de poder, açúcar e comércio, são ultrapassadas pelo algodão, matéria-prima básica da nascente indústria paulista. O algodão dominará a economia local por quase 6 décadas e só em fins dos anos 70, com o começo da produção do petróleo e da completa decadência do algodão, passou o Estado a ter um outro contorno econômico e social, já que Natal tornou-se, enfim, um centro dinâmico e político, graças em boa medida a reorganização das suas elites que passam a manter sua base de riqueza no interior, mas que se dedica a construir novos pontos de acumulação nas nascentes redes urbanas.
 
Dos anos 80 para cá, a economia do RN manteve-se muito dependente dos investimentos públicos, quer pela via direta (Petrobrás), quer pela via indireta (programas de isenção de impostos e financiamentos públicos), bastando olhar para o PROADI, que ainda sobrevive e para o Programa do Leite, que literalmente salvou os pecuaristas e pequenos proprietários do Seridó e adjacências da crise dos anos 90. Sem o Estado, as elites locais estariam ainda nas ribeiras e ribanceiras dos nossos rios, quando muito com empórios que lhe geravam renda pelo comércio.
 
A crise de 2008, que afetou a economia brasileira, que perdeu dinamicidade, só veio a ter um impacto fulminante no RN, quando sobreveio a crise de 2015 e o Golpe de 2016, esse sim um fator fundamental para explicar o estado de insolvência em que chegamos.
 
Uma economia baseada nos investimentos e indução pública, dependente de transferências de recursos da União, nos proventos de aposentadoria e da atuação da Petrobrás, sucumbiu rapidamente quando sua fonte de receita sumiu. As elites locais, diante dessa hecatombe, que pode ser claramente demonstrada pela violência que tomou conta do Estado e pelo número espantoso de trabalhadores que estão sem emprego, subempregados ou simplesmente desistiram de buscar o que não existe, encosta nos 700 mil, quase 35% de toda a força de trabalho que existe no Estado, demonstram sua clara incapacidade de reagir e passam a buscar uma narrativa, absolutamente falsa, de que é preciso “cortar na carne”, para resolver os problemas locais.
 
As elites mentem descaradamente, o que não é nenhuma novidade, e o fazem a partir de suas entidades de classe como a FIERN, promotora de um convescote inútil que há mais de 30 anos se reúne e nunca apresentou nada produtivo acerca de projetos exequíveis de desenvolvimento para o estado, a FECOMERCIO, cuja única ação é a de alinhar-se aos que querem a destruição do mercado de trabalho, etc. Se as bases mais organizadas da elite local tem essa visão rudimentar sobre como resolver os impasses históricos da economia do RN, não será ela que proporá uma saída para essa crise.
 

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