Wellington Duarte

25/04/2018 10h47
No recente carnaval de troca de partidos, três deles se destacaram, o Democratas (DEM), o Partido Progressista (PP) e o Podemos (+325%), o caso mais bizarro de todos. São três exemplos concretos da barafunda instalada nesse país a partir de 2013 e que desencadeou um Golpe em 2016 e a criminalização da política, feita pelos meios de comunicação e por amplos setores do Judiciários.  Merecem, pois, um destaque.
 
DEM e PP tem o mesmo DNA, embora seus nomes tragam uma mensagem positiva. Muitos dos seus quadros nasceram dentro da Ditadura, como é o caso do senador José Agripino, leal desde sempre ao governo dos generais, assim como uma das principais lideranças do PP, Paulo Maluf, que hoje está sob a guarda dos vestais de Curitiba.
 
A matriz ideológica desses dois partidos reside na Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o agrupamento de apoiadores do Golpe de 1964, que foi criado em 1965 para dar um ar “democrático” à Ditadura. A ARENA tornou-se Partido Democrático Social (PDS) em janeiro de 1980, quando os partidos foram autorizados a organizar-se e manteve o total apoio ao regime militar.
 
E nessa década entra o Partido da Frente Liberal (PFL), na história. Em 1984 deputados e senadores do PDS, antevendo a derrota do governo no Colégio Eleitoral, por onde era eleito o presidente da República, caíram fora do PDS, liderados pelo coronel feudal baiano, Antonio Carlos Magalhães, José Sarney e o próprio Agripino Maia, que romperam com Maluf, então líder absoluto do PDS. Esses dissidentes votaram em Tancredo Neves e formaram o PFL, passando a integrar o governo a partir daí.
 
Nas primeiras eleições para presidente depois da derrocada da Ditadura, lançaram suas lideranças ao cargo. Maluf teve 8,9% dos votos e Aureliano Chaves (sem o apoio do próprio partido) teve ínfimos 0,9% dos votos. Com a ascensão de Collor PFL e PDS o apoiaram, sendo que o PFL chegou a integrar o governo, enquanto o PDS definhava já que Maluf perdia espaço na política.
 
Em 1994 o PFL integrou a coalizão que elegeu Fernando Henrique Cardoso presidente e a partir daí estabeleceu-se uma “parceria”, em que o PFL tornou-se um “corpo assessório” dos tucanos, dando-lhe sustentação nos anos seguintes, marcando também sua ascensão em termos de bancada, chegando a 89 deputados em 1994 e 105 em 1998, quando chegou a ser o maior partido do Brasil. Nesse período o PDS tomara o caminho oposto, e numa tentativa de estancar a decadência, fundiu-se com o inexpressivo Partido Democrata Cristão (PDC), em 1993, passando a denominar-se Partido Progressista Reformador (PPR), sob a liderança de Maluf, Espiridião Amim e Jarbas Passarinho.
 
Sem nenhuma expressão nas eleições presidenciais de 1994, com seu candidato Espiridião Amim recebendo 2,7% dos votos, embora tivesse sua bancada aumentada de 42 para 51 deputados, o PPR teve vida curta. Um outro partido, formado em 1993 por Álvaro Dias, e que não decolara, aproximou-se do PPR e em 1995, logo depois das eleições presidenciais, formaram o Partido Progressista Brasileiro (PPB), passando a ingressar, como legenda subalterna, o governo FHC. A “recompensa” veio com o aumento da bancada em 1998, chegando a eleger 60 deputados.
 
 
 
Ambos, PFL e PDS, fizeram parte do “Centrão”, um agrupamento conservador que travou várias propostas progressistas que tentaram ser colocadas na Constituição de 1988. De 2002, quando Lula venceu as eleições presidenciais, até 2016, quando Dilma foi deposta, PFL e PPB tiveram trajetórias próximas, buscando fazer uma feroz oposição aos governos de coalizão ou chegando a integrar eles. Ambos sofreram revezes eleitorais com suas bancadas encolhendo, embora o caso mais expressivo tenha sido o do PFL, que em 2002 elegeu 84 deputados, em 2006; 65 em 2006; 43 em 2010; e 21 em 2014, no ápice da sua decadência. Já o PPB, tornado Partido Progressista (PP) em 2003, elegeu 49 deputados em 2002; 49 em 2006; 44 em 2010 e 38 em 2014.
 
Enquanto o PFL, tornado Democratas (DEM) em 2007, viu a ascensão de Rodrigo Maia, filho de César Maia, primo de José Agripino Maia, como seu presidente, e o seu atual é Antonio Carlos Magalhães Neto, neto de um coronel grosseiro e violento que dominou a Bahia durante décadas, mostrando exatamente que o nome “democratas” é apenas um nome. Já o PP “acomodou-se” a conjuntura e chegou a integrar os governos de Lula e Dilma.
 
No caso do PP, o atual presidente é Ciro Nogueira, que veio do PFL, e que foi deputado federal de 1995 a 2011, quando se tornou senador. Ciro é frequentemente citado em diversos escândalos de venda e compra de votos, além de acusações de ter recebido propina. Com essa “ficha”, Nogueira é uma extensão da “qualidade” do antigo presidente, Maluf, e parece seguir a “tradição”.
 
Após as eleições de 2014, DEM e PP ingressaram no Consórcio golpista, apoiando as iniciativas de anulação das eleições, feitas pelo PSDB e o apoio ostensivo ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do então PMDB, ao boicote ao governo Dilma e como força de apoio ao Impedimento da mesma em março de 2016 e o seu afastamento em maio. Nesse momento o DEM volta à vida, integrando a linha de frente do Golpe, mas como peça de apoio ao PMDB, enquanto o PP passa a recompor sua força. Nos dois casos DEM e PP usaram da cooptação dos deputados e agora em abril de 2018, ao final da “janela partidária”, a bancada do DEM cresceu 104,0%, chegando a 43 deputados, enquanto o PP cresceu 31,5% e sua bancada passou para 52 deputados. Com isso a velha guarda da Ditadura passou a ter 98 deputados. Uma vitória do passado.
 
Já o PTN é um caso à parte, pois considera-se um partido do “nem, nem”, nem de esquerda e nem direita, o que seria um tradicional centro, mas cujas ações desmente esse discurso, já que está mais para um partido meramente fisiológico. Na realidade o partido tem um “dono”. A sua presidenta é Renata Abreu, filha de um dos fundadores do PTN, fato que ocorreu em 1995, José de Abreu (dissidente do PTB), que por acaso do destino é irmão do falecido Dorival de Abreu. Esse “partido familiar”, foi assumido por Renata em 2011, que passou a defender a expansão do PTN e apoiou a eleição de Dilma em 2010, chegando a apoiar esse governo até 2014, quando apoiou Aécio.
 
Em dezembro de 2016 o PTN passou a denominar-se PODEMOS, uma referência a uma frase de Barack Obama que ficou mundialmente conhecida: yes, we can (sim, nós podemos) e começou uma “caça aos deputados” para se viabilizar em termos de participação nas diversas comissões da Câmara. Renata, que foi apelidada de “janeleira” por Álvaro Dias, trata o Podemos como a “família Podemos”, o que já é um indicativo do perfil desse partido.
 
Enquanto o PTN/Podemos é fruto da própria anacronismo do sistema partidário brasileiro e não surpreende esse estarrecedor crescimento de 325,0% nessa “janela partidária”, o retorno do DEM e do PP à condição de protagonistas na Câmara de Deputados, expressa bem a regressão por que estamos passando.

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