Wellington Duarte

19/02/2018 01h08
Dois acontecimentos, em meio aos muitos fatos que enxovalham nossa história quase todos os dias, marcaram essa semana : o desfile do  Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, que tratava da Lei Áurea e sua contemporaneidade, mas que acabou sacudindo o país com um desfile crítico sobre a atual situação do país (12) e o Decreto de intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro (16), fato inédito na República Federativa do Brasil, mas que não deve surpreender ninguém na República dos Ladrões.
 
Durante a semana a Paraíso da Tuiuti foi alvo de louvores e críticas. Ela foi inevitavelmente apropriada pelos que lutam pela democracia e tornada uma espécie de símbolo contra a República dos Ladrões, furando o espetacular bloqueio dos meios de comunicação, hoje a mais real ameaça ao desenvolvimento de uma sociedade plural nesse país. E também foi alvo de críticas ácidas pelos defensores do Golpe, como um tal Sérgio Pardellas, articulista da IstoÉ, que, surtado, chamou a Escola de “hipócrita”, “desrespeitosa”, “partidária” e outros impropérios, próprio de quem serve aos que estão no poder hoje.
 
E neste sábado, no chamado “desfile das campeãs”, a Tuiuti foi simplesmente censurada. Não a censura que se via na Ditadura, mas a ditadura que certamente veio da Globo e de outros setores do Golpe e que provavelmente pressionaram os dirigentes da Tuiuti durante a semana, quem sabe lembrando até onde eles podem ir.
 
Informações divulgadas na imprensa revelaram que “emissários” do governo Temer, pressionaram os dirigentes da Escola para que o destaque não aparecesse na avenida. Como resultado, a Tuiuti veio menos “rebelde”; a faixa do vampiro Temer foi escondida, as carteiras de trabalho queimadas “sumiram” e a cobertura simplesmente abafou o que era uma crítica aos golpistas, por um morno “protesto”. O recado, dado pela Globo e os setores do Golpe foi claro: adapte-se aos “novos tempos” ou sumirá da mídia.
 
E da quinta para a sexta dessa semana, o país foi acordado com a notícia de que o Executivo federal baixara um Decreto, intervindo na Segurança Pública do Rio de Janeiro. Quem deu a “espetacular” notícia foi novamente a Central Midiática do Golpe: a Globo. E o que se viu foi um dia inteiro com os jornalistas, analistas, articulistas, comentaristas e apresentadores, saudando a intervenção, com as mais disparatadas desculpas, mesmo que confrontadas com os dados estatísticos de que, nesse Carnaval, a violência na cidade do Rio de Janeiro, abandonada às traças pelo governador Pezão, que se enfurnou na sua “dacha” de campo e do prefeito-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Crivella, que foi pra Europa com um pequeno séquito para “buscar tecnologia em segurança”.
 
O “caso” da Tuiuti e a Intervenção federal no Rio de Janeiro, demonstraram que o caos institucional, consequência direta do Golpe, são peças do mesmo tabuleiro do que o jornalista  Luís Nassif chamada de “xadrez do Golpe”, pois tratam de demonstrar mais do que claramente que o Regime de Exceção começa a fazer “experiências” no que diz respeito ao que pode se armar daqui para frente, diminuindo gradativamente o que resta de espaço para a crítica e para a Resistência e o “cercamento” do processo eleitoral que ou neutralizará ou simplesmente fará sumir a Esquerda do ambiente político da Terra Brazilis.
 
A mais contundente crítica da Intervenção Federal veio da professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jaqueline Muniz, que, num programa da Globo News, já devidamente “viralizado” nas redes sociais, e diante de um entrevistador boquiaberto, disparou petardos pesados contra o Decreto. E o que a professora, de forma contundente e corajosa, disse?
 
Primeiro que a Intervenção é pior do que trocar seis por meia dúzia, na medida em que a atual intervenção não é nenhuma novidade e que a dinheirama gasta com o suporte que as forças armadas vêm dando ao aparelho de segurança estadual, sem relatórios e indicadores que mostrem a positividade dessa atuação, demonstrando o completo descontrole das ações públicas nessa área.
 
Segundo, que a teatralidade das chamadas operações policiais, que tem pouco efeito no dia a dia do crime e que, sem ações de inteligência, que foi sucateada pela crise econômica e por gestões incompetentes, são “pra inglês ver” e que, por conseguinte o que professora chamou de “operações espanta barata” serão tão inócuas como as anteriores.
 
Terceiro, que a Intervenção Federal é uma simplória enganação restando saber quem são os autores desse teatro, mostrando a completa falência da gestão Pezão, que não fez nenhum plano de segurança pública, muito parecido com a falência da Segurança Pública dos demais estados.
 
O rescaldo dessa semana movimentada, em que, além desses fatos que chamaram a atenção, continuaram as manobras dos golpistas para aprovar a pusilânime Reforma da Previdência e a ação da Resistência, que amanhã (19), realizará uma Jornada Nacional de Protestos contra a citada reforma, mostra que a luta pela democracia nesse país será longa e dolorosa.

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