Daniel Costa

29/01/2018 14h11
Sempre que se fala hoje em música nacional surge a discussão sobre os caminhos da MPB. Cadê ela, sumiu? Só existem misérias do naipe de Luan Santana rolando por aí, com letras ridículas e arranjos insólitos? 
 
Muita gente boa diz que não aconteceu nada. A música popular brasileira de qualidade continua a existir. Novos cantores e bandas surgem fazendo um bom trabalho. O problema é que não há espaço na mídia. Mais do que nunca tudo gira em torno do velho jabá. Assim, o que é bom nunca chega aos ouvidos da rapaziada. Daí que o apego ao estilo sertanejo seria por falta de opção. 
 
Mas quando se pergunta quais são esses grandes artistas que isolados pela indústria estão rolando apenas em uma ou duas vitrolas, aí a coisa complica. A turma fala em Crioulo, Silva, Tié e Tulipa Ruiz. No entanto, quando se para pra escutar esses músicos, o gostinho é meio insosso. É um som cheio de pretensões, polido, envernizado, mas que no frigir dos ovos não mexe com a cabeça do ouvinte, porque se veste de batidas eletrônicas modernosas e letras pseudointelectuais que se perdem em rimas como “Convoque seu Buda! /O clima tá tenso/Mandaram avisar que vão torrar o centro”. 
 
Existem bandas “legaizinhas”, é verdade, mas nenhuma delas certamente capaz de inspirar alguém a querer montar uma banda. É algo muito parecido com o que se vê na literatura brasileira atual. Parece que os escritores nacionais estão sempre preocupados em escrever obras inovadoras, com sacadas geniais e coisa e tal, e assim se esquecem do trivial: contar uma boa história. Menos mal que na literatura ainda se veja gente do naipe de Marcelino Freire, produzindo uma obra simples que fala sem intermediários com a cabeça do leitor. 
 
Mas na música “o clima tá tenso”. Nenhum novo oásis nesse vasto deserto de pretensiosismo inodoro. Talvez fosse a hora de retomar a conhecida lição dos artífices do punk que, incomodados com a direção que o rock seguiu depois dos anos 60, com hits recheados de solos quilométricos, luxuriantes harmonias e introduções rocambolescas, lançaram as bases da ideia de que também é possível se fazer boa música a partir da simplicidade, de forma direta e expressiva.  
 
Talvez seja necessário elaborar música para recuperar um público, e não música para ir além, como um passo à frente no que já foi feito em termos de novidade estética. Quem sabe assim, de uma tacada só, não se restaure a boa e velha MPB e de quebra ainda se lancem no esgoto da história as Anitas, os Pablos e os MC’s da vida. 
 

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