Valério Mesquita

25/01/2018 01h14
Não é o romance da escritora inglesa Emily Bronte (1818-1848). O morro dos ventos uivantes é o Guarapes, entre Natal e Macaíba. Aquele frontispício em ruínas, vergastado pelo vento e cercado de densa vegetação – visto da estrada – tem aparência e transparência de mistério e esplendor. Uma ruína viva do passado. À noite, habitantes das redondezas escutam vozes e ruídos estranhos como se tudo desejasse restituir o burburinho de outrora. Fabrício Pedroza, o capataz dos mistérios circundantes, em vestes senhorais, já foi visto várias vezes subindo e descendo as encostas. Quem passar por ali, ao largo, sentirá frêmitos e calafrios. Há um gemido suspenso no ar pedindo para ser ouvido.
 
Toda aquela área é propriedade efetiva do governo do estado e afetiva do povo de Macaíba. Por ser um patrimônio histórico, foi tombado, desapropriado e pago pelo poder público estadual com o objetivo de restaurá-lo, desde o início do ano dois mil. Ali, doze décadas de história nos contemplam. Há anos que ergo a minha voz, sem que seja ouvido. Ao derredor do casarão semidestruído, grileiros se apossam para barganharem posses ilícitas e falsos privilégios. Tudo me parece crer que o dinheiro público foi enterrado sem a devolução da paisagem, do tempo e da história do Rio Grande do Norte. Uma página está faltando nos livros escritos pelos historiadores Câmara Cascudo, Tavares de Lyra, Tarcísio Medeiros, Olavo Medeiros Filho e tantos outros.
 
Nas urnas do ano 2006, em Macaíba, inúmeros parlamentares obtiveram votos para se elegerem. De estadual a federal. Ninguém se lembrou, até agora, de colocar uma emenda parlamentar em favor da restauração do empório dos Guarapes. Nem, ao menos, uma pífia proposição no plenário lembrando ao poder executivo o resgate dessa memória caída no escuro tenebroso do esquecimento. Não posso deixar de salientar as sucessivas promessas oficiais de cumprir esse compromisso. E o cobro em nome dos filhos de Macaíba, como acadêmico, como confrade do Instituto Histórico, como membro do Conselho Estadual de Cultura, e, enfim, como ex-parlamentar que iniciou todo esse processo memorialístico.
 
Anos passado, em encontros eventuais com os últimos governantes, entre outros assuntos, repeti a cobrança.  Primeiro, revelei que havia tido uma visão emblemática. Elas manifestaram curiosidade e estranheza. Narrei que ao passar pelo morro dos Guarapes me deparei com esquisita procissão liderada por Fabrício Pedroza e dezenas de falanges espíritas repetindo em uníssona voz que iriam perturbar o sono delas. Riam e entendam a sutileza do bem humorado e atípico lembrete. “Diga a Fabrício, que não precisa dessa assombração. Já me comprometi e vou fazer”. Cá comigo, disse eu: mas os ventos não cessam de uivar. Nem Vilma, nem Rosalba cumpriram a palavra ou não puderam. O tempo passou e veio o novo governador sob o domínio do mal. Esse fez pior. Devolveu um milhão de reais que o ministério do turismo havia remetido para o início da restauração do Casarão dos Guarapes. Agiu politicamente com ranço e rancor. O dinheiro estava na Caixa Econômica do Rio Grande do Norte. E o projeto técnico estava pronto e Faria não pediu, como deveria, a prorrogação do convênio. 
 
Por fim, tudo voltou a estaca zero. Macaíba mergulhou no esquecimento.

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