Cefas Carvalho

15/01/2018 12h19
Percebi um monte de gente querida - e não precisa ninguém vestir a carapuça, este comentário não é crítico, é bem humorado - muita mesmo, compartilhando a tal "Seleção dos melhores artistas Musicais no Brasil", nos anos de 1987 e agora em 2017. Na primeira lista, Roberto Carlos, Djavan, Marisa Monte, Gil, Gal, Legião Urbana e gênios do mesmo naipe. Na segunda, Pablo Vittar, Luan Santana, Nego do Borel, Anitta e similares.
 
A lista, claro, é apócrifa e pessoal, criada por um internauta qualquer. Não existe qualquer premiação, enquete, votação que outorgou esses "melhores do ano". Mas, sabe como é, né, internauta gosta de compartilhar qualquer coisa como se fosse pesquisa da Nasa ou artigo de vencedor de Nobel (novamente lembrando que este texto é bem humorado).
 
Vamos por partes. A nostalgia sem fim que minha geração, entre 40 e 50, tem da música produzida no período merece um estudo aprofundado. Claro que toda aquela música era de uma qualidade sem fim, tanto que a escuto até hoje em casa e quando possível. Fui a todos os shows possíveis de Legião Urbana, Engenheiros (sim, eu gosto) e Ira!, passei tardes tentando entender as letras de Chico e Caetano, me emocionei com Maria Betânia.
 
Mas, não havia somente esse tipo de música nos anos 80. Ou os quarentões já se esqueceram que naquele tempo Luiz Caldas ("Olha a nega do cabelo duro, que não gosta de pentear") e Sarajane (da inacreditável "Vamos abrir a roda, enlarguecer, abre a rodinha, meu amor") faziam estrondoso sucesso. E que uma das bandas de rock de sucesso da época, Inimigos do Rei tinha uma canção "Adelaide", que falava de uma anã paraguaia.
 
Por sua vez hoje, não obstante o imenso - e merecido - sucesso da Pabllo Vittar e Anitta e de artistas "sem prestígio" como Gustavo Lima, Maiara e Maraísa etc, também existem no cenário prontos para serem ouvidos, Lenine, Otto, Filipe Catto, Tiê, Ceu, Tiago Iorc, Tulipa Ruiz, Liniker, São Yantó, Karina Buhr e mais dezenas de artistas que misturam rock, pop, MPB, samba e fazem trabalhos maravilhosos. Todos disponíveis no You Tube, Deezer e Spotify. Alguns dos citados já se apresentaram em Natal.
 
Não gosta de Anitta e Pabllo Vittar? Perfeito, direito da pessoa. Mas, que tal a pessoa postar o que gosta (algum dos citados ou qualquer outro) na música brasileira atual, até para divulgar música de qualidade com os amigos?
 
Percebo que a música brasileira hoje tem uma diversidade que a geração anos 80 tem certa dificuldade em entender/assimilar. Como já dito, acima, tem Pabllo e Anitta e tem sertanejo e tem funk e tem também uma nova MPB, um novo rock, cenários regionais. Para quem mora em Natal, que tal esquecer um pouquinho as críticas à voz de Pabllo Vittar e ir à Ribeira conferir as bandas potiguares? Que tal em um sábado em Zé Reeira ou na quinta no Bar de Nazaré ver a produção do samba autoral potiguar?
 
Ah, e sobre nostalgia, o pessoal já parou para pensar que o que hoje é clássico um diz já foi "estranho" e contestado? Nos anos 80, por exemplo, eu tive um amigo que o pais não deixava o filho ouvir Titãs em casa. Hoje, Titãs é clássico.
 
Enfim, a nossa geração que curtiu e aproveitou os anos 80 poderia ser menos ranzinza e entender, ou pelo menos aceitar, os novos momentos musicais, ainda que música de entretenimento. No pop rock americano sempre existiu música de entretenimento e sempre a curtimos sem problemas.
 
No frigir dos ovos uma geração que cantava "Ursinho Blau Blau" e a tem, ainda hoje, como clássico do rock, não tem muita moral para falar da geração de hoje, não é?
 

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