Nicole Tinôco

09/01/2018 13h09
Adianto uma certeza, hoje não traremos política, não pretendo fazer desta nossa temática principal (ainda que quando necessário abordaremos), uma vez que já temos muitos colegas focados neste eixo, e no presente ano em especial, será quase uníssono: política de ponta a ponta dos jornais, periódicos e afins, e hoje a ideia é voltar a narrativa inicial deste espaço. Ainda com aquela ressaca típica de início de ano, fiquei me perguntando sobre qual dor/amor falaria hoje, afinal são tantas, e com antecedência como sempre fui pontuando ideias durante a semana afim de trazer algo mais elaborado nesta terça, mas o tempo não permitiu que eu desenvolvesse como gostaria nenhuma dos meus “projetos iniciais”, fato recorrente em minha vida que venho lamentando e me culpando e tem me levado ao questionamento que trago a vocês hoje, porque corremos tanto se nunca temos tempo. 
 
O jornalismo opinativo reflete muito a sociedade, os fatos ocorridos na semana, a nossa coluna em particular é um reflexo claro dos meus sentimentos e dos que me cercam, ou daquelas pessoas que passam por mim e eu muito observadora que sou tento compartilhar, sempre buscando ter o devido cuidado e todo respeito para que não haja exposição desnecessária. Em virtude disto acabo esperando os dias passarem para que na terça seguinte possamos abordar algo atual e necessário que contribua de alguma forma com os que venham a ler, e venho percebendo a um certo tempo que os textos atuais, não somente os meus, estão ficando cada dia mais superficiais. Será que somos em linhas gerais uma “leva” de colunistas pouco informados, rasos e que não conseguem trazer temas profundos que engrandeçam os leitores afim de que saiam um pouco melhores do que no início da primeira linha? 
 
Me permitam responder e imediatamente discordar da questão proposta, vivemos uma era que me lembra os desenhos animados, volta e meia imagino o Coelho Branco da obra de Lewis Carrol, sempre correndo de forma agoniada e ansiosa dizendo: “Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!”, na inseparável companhia de seu relógio de pulso chamando atenção da menina Alice, em seu País das Maravilhas.  Nós jornalistas não somos diferentes, falo desta profissão por ser a minha, mas estamos todos tão atordoados em meio a turbilhões de sentimentos, projetos, novidades, com a velocidade e multiplicidade da informação, notícias em tempo real, mais planos, reuniões, projetos, atribuições, ufa! Só de pensar nas obrigações da semana a mente já começa a latejar e por tantas vezes a fuga acaba sendo a solução momentânea, não planejamos os dias seguintes porque hoje já temos a certeza que não daremos conta de tudo, e o pior, o que conseguirmos realizar o faremos sempre com aquela incômoda sensação de que poderíamos ter feito melhor. No meu país de Maravilhas, brinco que vim a vida a passeio, não gosto desta pressa, apesar de ser muito agitada e acelerada, prefiro que as coisas da minha vida aconteçam paulatinamente. 
 
Em meu “melhor juízo” quando o discernimento me permite e ansiedade não me vence sou adepta da calma, da certeza a de que as coisas acontecem aos poucos, o imediatismo só toma conta de mim quando não estou bem, e nesta lógica, por vezes fui taxada de negligente com minha vida, meus planos, ou com os planos que fizeram para e por mim. Aos 15 anos e 11 meses entrei na faculdade de jornalismo da UFRN, sim a idade é esta mesmo, eu era o que chamavam a época de “adiantada” e por isso ingressei tão cedo na temida Universidade Federal, mas lembro com clareza que por volta do segundo ou terceiro período meus pais reclamavam da minha falta de foco, do meu excesso de saídas, do quanto eu ia a festas e da minha pouca dedicação aos estudos, como se uma garota de 16 anos conseguisse mensurar quais eram as responsabilidades que me aguardavam pós período acadêmico quando na verdade a única coisa que eu queria me “focar” era de fato com qual roupa eu iria para festa do fim de semana seguinte, me julguem se forem capazes. 
 
Parto também agora na defesa dos meus genitores, não são eles nem vocês, pais leitores, os culpados pela ansiedade que eu ou os filhos de vocês carregam até a fase adulta, eles/vocês eram e são também escravos da velocidade exacerbada que é o tempo em que vivemos nos impõe. Some também a esta conta às cobranças, (pessoais e externas) e a responsabilidade que só agora entendo que nós pais e mães nos imbuímos em fazer com que as vidas de nossos filhos “deem certo”.  A ninguém cabe o sucesso/insucesso de ninguém, cada um é responsável e escritor a próprio punho de sua história pessoal, mas que o ritmo desconcertado desse relógio universal o qual nossa sociedade inconscientemente se submete contribui para sermos pessoas angustiadas e repletas de inseguranças isto não há como negar, "Dizem que o tempo resolve tudo. A questão é: quanto tempo?". (Lewis Carrol)
 
Na historinha da Disney o coelho parece ser o mais racional, mais equilibrado se comparado aos demais loucos da “Wonderlândia”. Será mesmo que nós, “loucos” somos tão sem razão assim?
 
 “-Vou te contar um segredo: As melhores pessoas são loucas”. Disse o Chapeleiro à Alice. 
 
Deste modo, será que essa coisa de ter tanto foco, objetivo, gana e predestinação para alcançar seus objetivos não respeitando nem o próprio tempo de descanso do corpo é exemplo do que deve ser seguido na busca do tão desejado sucesso?  A alma pede calma. A “cabeça” precisa pensar sim, se manter ativa é saudável, mas o exagero também é um mal, até nossa mente necessita do ócio. 
 
- “É tarde! É tarde! É tarde até que arde! Ai, ai, meu Deus! Alô, adeus! É tarde, é tarde, é tarde!”. Canta o coelho. 
 
Termino por aqui discordando também do simpático e apressado coelho, nunca é tarde! Para recomeçar, para agir, tentar, construir. O tempo é agora e vamos vivê-lo sem olhar para trás, e principalmente sem olhar para frente. Cada dia sua dor e deixemos que do futuro ele mesmo se encarregue, cuidemos do único tempo que até hoje comprovadamente (deixando de lado os filmes de ficção científica), podemos dominar, o atual. 
 
O presente não possui esse nome à toa, é uma dádiva divina, que o todo poderoso e o universo proporcionam a nós todos os dias. Sejamos gratos a esta dádiva que nos foi concedida hoje ao acordar, e vamos pôr em pratica nossos planos e desejos, sem esquecer de descansar e não cobrar demais de nós mesmos, com Alice aprendi que devo entender meus medos, mas jamais deixar que eles sufoquem meus sonhos, mas para isso precisei de outra lição que aprendi na vida, respeitar o meu próprio tempo! Pois até para que os sonhos surjam e que a gente possa lutar por eles é preciso que a vida esteja em paz. 
 

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