Nicole Tinôco

19/12/2017 13h44
Sofro de uma síndrome que contarei a vocês logo adiante. O que acontece é que muitas vezes não consigo estar presente na vida das pessoas que amo, seja em virtude de nossas agendas pessoais que estão a cada dia mais atribuladas, ou até mesmo por questões de foro íntimo. Para ser mais específica, trata-se muitas vezes de uma escolha por razões de sobrevivência. Explicarei. Existem pessoas que amo demasiadamente, muito mais até do que eu gostaria e sofro com a ausência delas, embora não esteja conseguindo conviver com as mesmas. 
Ocorre que vivemos tempos difíceis, nos quais a intolerância reina. Faço aqui mea-culpa, também ando deveras intransigente. Não quero, não posso, não consigo conviver nem ter perto de mim certo tipo de pessoas, ainda que por elas eu nutra um afeto grande e verdadeiro. Há grupos específicos de nossa sociedade os quais eu não tenho conseguido conviver. Sempre critiquei, mas em nome da minha paz e equilíbrio mental tenho preferido viver em “guetos”. 
 
Não estou disposta a conviver e, pelo menos por hora, quero distância do meu círculo diário de pessoas homofóbicas, eleitores de Bolsonaro; dos que nutrem ódio em razão de gênero, os que fazem apologia à violência contra mulher; que diminuem nosso feminismo… Também quero distância daqueles que não aceitam a diversidade, a pluralidade que eles/vocês, querendo ou não entender, é uma realidade e é fato em nossa atual sociedade. Felizmente.
 
Desculpem moralistas, “sagrada família”, belos e recatados e do lar mas o mundo mudou. As pessoas estão mudando, se aceitando, se descobrindo. Sim, estamos saindo do armário, cada um obviamente do seu. Meu “armário” venho abrindo aos poucos para vocês, tanto neste espaço quanto em minhas redes sociais. Meus segredos, minha intimidade, o que em mim causa angústia são justamente meus medos, minhas dores, as cicatrizes que carrego e tenho muito orgulho disto. Faço questão de contar uma a uma, no sentido do que disse a ativista Paquistanesa Malala Yousafzai, Nobel da Paz em 2014 aos 17 anos: “Conto minha história não porque seja única, mas porque não é”. É justamente por minha vida e história ser banal e comum a outras pessoas, que busco dar a ela publicidade para que sirva não de exemplo, mas que possa talvez ser amparo a dor de terceiros. 
 
Mas voltemos ao título do texto: Eu e o Natal. Eu, Noel. Sofro de uma síndrome que intitulei como de Papai Noel. Amo presentear, gasto nisso parte de meu tempo. Independente de período de festas, eu me esforço para materializar em “mimos” o carinho que sinto pelas pessoas e porque não dizer, suprir por meio de objetos a minha ausência física. Mas estou tendo muitas dificuldades para “viver esta síndrome”. Esta enfermidade altruísta que possuo anda bastante comprometida nesses tempos “Temerários”. A “grana está curta” e a Mamãe Noel aqui tem apenas poucas lembrancinhas este ano. E hoje, dia 19 de Dezembro, emblematicamente precisamos pensar sobre isto. 
 
Em nosso Rio Grande do Norte seria votado na manhã desta terça-feira projeto de Reforma do Regime de Previdência dos Servidores Estaduais, mas a Assembleia Legislativa do RN voltou atrás. O Legislativo Potiguar com base na decisão do STF, mais especificamente do Ministro Ricardo Lewandowski, retirou a matéria da pauta de votação. O voto do Ministro coaduna com um acordo feito pelos Governos Estaduais e Federal, uma vez que a decisão de Lewandowski suspende, entre outros artigos da Medida Provisória, o que aumentava alíquota de contribuição de arte do funcionalismo federal que seria também repassada as contribuições dos servidores estaduais. 
 
Trocando em miúdos, a alíquota de contribuição previdenciária dos servidores estaduais do RN não aumentará. (A “mamãe” aqui agradece). Lembrando que a constitucionalidade desta proposta ainda será objeto de análise a ser definido pelo plenário do STF, muito provavelmente somente em 2018. Portanto, garanto aqui o presente da “geral” lá de casa e amigos – só os muito próximos, afinal são tempos de recessão.
 
Você deve está se perguntando a razão desta mudança brusca no linguajar e temática deste coluna no dia de hoje. Caros amigos e leitores, vivemos tempos muito delicados e decisivos à sustentabilidade de nosso futuro e dos nossos filhos. Não posso me furtar aqui de abortar assuntos com maior teor de complexidade e um pouco distante dos tons lúdicos de outrora, uma vez que o momento do país e mundo clamam por isso. O amor ficou hoje em segundo plano, as dores aqui expostas são também financeiras e refletem uma preocupação extremamente necessária com os dias que estão por vir.
 
Reforma da Previdência? Como utilizar um vocábulo que passa a ideia de melhoria para algo que piora uma situação anteriormente existente? Que eu saiba não se reforma nada, uma casa, um objeto para torná-lo pior. Dito isto, como falaremos em reforma, para algo que usurpa, destrói, acaba com direitos constitucionalmente assegurados, em especial para àqueles que mais deles necessitam? Ou seja, pobres, minorias e trabalhadores em geral. A Previdência, este bem que nos foi assegurando na Carta Magna de 1988 é Direito Fundamental e precisamos ir às ruas, a exemplo de nossos Hermanos Argentinos, à luta por ela. Por nós. 
 
Não podemos nos calar, não posso aqui hoje falar de amor, diante de brutais mudanças. Os trabalhadores deste país não podem pagar esta conta. A depender de mim, não irão. Troco hoje meu “gorrinho vermelho” e minhas histórias doces e divertidas por placas de Piquet: Vamos à luta. Ocupemos as ruas. Fica aposentadoria, não à Reforma da Previdência. Ficam direitos adquiridos. #FORATEMER
 

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