Valério Mesquita

07/12/2017 19h34
01) A vida de um administrador público é atribulada  e  cheia de surpresas. Principalmente a de um governador, verdadeiro caixeiro viajante sem eira nem beira. Essa história  ocorreu  no Eron Palace, hotel de Brasília  onde  se  hospedara  por  uma  noite o então governador   Lavoisier  Maia.  Dia  seguinte,  pela manhã, apressado  para  pegar  o  vôo  comercial de volta a Natal, surgiu uma discussão na portaria do hotel que insistia na cobrança de duas diárias ao nosso inconformado Lavô. Ao avistar a discussão o secretário de Indústria e Comércio Getúlio Nóbrega indaga ao colega Manoel de Medeiros Brito, próximo a cena, o que estava acontecendo. Brito Velho, ao seu jeitão, suspende as calças pela frente e aponta com o polegar para trás: “Querem roubar o cientista. Estão cobrando duas dormidas.”
 
02) O grande e saudoso mestre Mário Moacir Porto se deparou certa vez como promotor de Currais Novos com uma cena inusitada. Conversava com o vigário local, em frente a farmácia, quando pela rua soldados do destacamento conduziam um pobre homem a prisão debaixo de pancadas. Apanhava sem piedade de “rabo de galo”, um “equipamento sutil de persuasão” da briosa Polícia Militar daquele tempo. Indignado o padre e o promotor protestaram: “Não faça isso com esse cristão!”. E o soldados  continuavam o espauderamento. Num desabafo de indignação total, Mário Moacyr Porto ouviu do padre uma exclamação desesperada: “Mate-o logo, mate-o logo!”. Da rua, caído aos pés dos militares, o preso respondeu: “Não senhor padre, do jeito que vai, vai bem!!”.
 
03) Fazenda Solidão, Mossoró. O seu proprietário governador Tarcísio Maia recebia e hospedava o Ministro Mário David Andreazza que inspecionava obras em Mossoró. À noite, após o lauto jantar, todos sentados no alpendre, recebiam a brisa leve e cansada das águas de Tibau. De súbito, o Ministro Andreazza retira do bolso um belo charuto cubano que atiçou o olhar curioso do charutólogo secretário Manoel de Brito que passou a observar o ritual preparatório do seu feliz fumante. Quando chegou o momento de acendê-lo, Brito foi rápido em riscar o fósforo provedor. O ministro agradeceu e educadamente indagou: “Você também aprecia?”. Responde o esperto Brito: “Sim, Ministro, mas estou desprevenido”. Ganhou na hora um legítimo cubano.
 
04)  O ministro da Educação ao tempo de João Goulart, Júlio Sambaquy que gostava de pileques, estava em Natal. De pronto foi apresentado ao corpo docente da UFRN pelo reitor Onofre Lopes. Quando chegou a vez do dr. Pedro Segundo, professor e urologista, o ministro ao ouvir o seu nome murmurou: “Eu conheço esse nome não sei de onde”. Resposta pronta do médico: “O senhor está me confundindo com o Imperador”.
 
05)  Ainda na capital, o ministro Júlio Sambaquy recebeu a visita de um colega de turma residente em Natal. Era o engenheiro Roberto Freire, tal como o ministro, apreciador dos exageros do whisky. No hotel dos Reis Magos, quebrando o protocolo, Roberto Freire proferiu a saudação efusiva ao ministro sob os olhares curiosos dos circunstantes: “Sambaquy, samba ali, samba acolá!”. 
 
06) Nos áureos tempos dos “três reis maias”, numa animada conversa entre caciques, alguém alfinetou: “E aí doutor Tarcísio, diante dessa debandada partidária, quem sai ganhando?”. Tarcísio, pausadamente, explicou: “Nessa hora faço minhas as colocações ateístas do mineiro Tancredo: entre a Bíblia e o Capital, é preferível o Diário Oficial”. Entenda-se, o governo. 
 

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