Tatiana Linhares

12/11/2017 18h39

Eu sei que vai parecer clichê, mas a coluna de hoje envolve ônibus de novo! Desculpem! Não quero cansá-los, mas é que quando você se dispõe a ouvir os relatos das pessoas, as conversas ficam tão mais interessantes... e que lugar melhor para isso do que um ponto de ônibus?

Pois bem! Dia desses, sentada em um ponto, chegou uma senhora perguntando se o ônibus dela já tinha passado. Tinha! Há menos de um minuto! Para azar dela, teria que esperar pelo menos mais uns 20 minutos. Para a minha sorte foram minutos de pura singeleza!

Sorridente, Luzia colocou uma pesada sacola no chão e disse que estava indo para sua casa no interior. Contou que fica na capital a semana inteira, trabalhando, e no fim de semana, volta para sua casinha para rever o filho e o marido. Sem que eu precisasse perguntar nada, ela contou que eles são tudo que ela tem na vida.

Em 20 minutos, que pareceram horas, Luzia contou com um ar entristecido que perdeu o filho mais novo quando ele tinha apenas 15 anos. Assassinado. Brutalmente. E que foi a época mais triste de sua vida. Os olhos marejaram. A voz embargou. As mãos se seguraram nervosamente.

Contou ainda que pouco tempo depois, descobriu uma séria traição do marido. Com uma prima. Falou sobre tudo isso com os olhos hora nos meus, hora mirando o chão. Pareciam lembranças doloridas.

Mas, quando penso que não, Luzia coloca um sorriso no rosto e diz que nem tudo foi tão ruim. Sua expressão mudou totalmente. Ela afastou aquela sombra da tristeza e, radiante, explicou que depois de colocar o marido para fora de casa, conheceu uma outra pessoa. Um homem digno, como ela mesma disse.

Com a empolgação de uma adolescente, lembrou de como ele a cortejou. Como ele foi insistente. Como enganou um outro concorrente para sair com ela. O sorriso de canto de boca que Luzia deu, deixou claro como isso ainda estava vivo em sua memória. "Ainda estamos juntos e felizes. Ele é um companheiro muito bom", se derreteu.

Ela contou ainda que ficar longe do parceiro e do filho, durante toda a semana, só aumenta a vontade de matar as saudades. "Eles estão lá me esperando! Deus ainda me deixou um filho, então não tenho do que reclamar".

Não demorou muito até seu ônibus chegar. "Tá na minha hora", acenou alegremente. E lá se foi Luzia continuar sua jornada. Fiquei ali sentada, com os olhos embebidos em lágrimas, acompanhando seu ônibus até ele sumir de vista. A história de Luzia mexeu muito comigo. Sua coragem e nobreza diante da vida são um exemplo. Ela me mostrou que a esperança, o perdão e a humildade são transformadores. E que o amor tudo pode, tudo suporta e o tudo supera.


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