Andrezza Tavares

20/10/2017 11h54
Autores:
Andrezza M. B. N. Tavares 
Cybelle Dutra da Silva  
Haudália Magna Verçosa de Sousa  
 
O temático Currículo é apresentado neste trabalho a partir de aspectos considerados relevantes na revisão bibliográfica e análise no campo de relações de poder, ideologia e cultura, a construção teórica que fundamenta o Currículo Integrado e a sua intenção como proposta de educação transformadora.
 
Para analisar as concepções sobre currículo é imprescindível recorrermos à história e a origem do currículo e suas questões atuais. Segundo SILVA (2000), a palavra currículo, de origem latina, regressou à nossa linguística por mediação anglo-saxônica, vem do latim curriculum, significa «pista de corrida». Podemos dizer que no curso desta “corrida”, o currículo, acabamos por nos tornar quem somos.
 
  Segundo Silva (1999), o currículo corporifica os nexos entre o saber, poder e identidade. Ele é um meio não somente para se apresentar conteúdos, sugerir expectativas de aprendizagem, mas também orientar a escolha de materiais didáticos, planos e práticas de aula do docente, rumos dos projetos de ensino e pesquisa da escola, e, sobretudo, o exercício de uma política de humanização que considere o sujeito com o qual se trabalha, na qual educamos.
 
Percebemos que a definição do que vem a ser currículo, no campo educacional, variam de acordo com cada época vivenciada pela sociedade, que a ideia de formação completa do homem por meio de processos educacionais é anterior à sociedade industrial e, portanto, ao marxismo e à Escola Unitária de Gramsci. Estava presente no período dos pensadores renascentista, a preocupação com a formação completa do ser humano. Comenius em Didática Magna recomenda: 
 
Importa agora demonstrar que, nas escolas, se deve ensinar tudo a todos. Isto  não quer dizer, todavia, que exijamos a todos o conhecimento as ciências e de todas as artes (sobretudo se  trata de um conhecimento exato e profundo).E pretendemos apenas que se ensine a todos a conhecer os fundamentos, as razões e os objetivos de todas as coisas principais, das que existem na  natureza como das que se fabricam, pois somos colocados no mundo, não  somente para que façamos de espectadores, mas também de atores (COMENIUS, 1985, p. 145).
 
Entretanto esta noção de currículo destacado por Comenius deve ser analisada dentro de um contexto histórico e político, diferentemente da discussão de totalidade e omnilateralidade de uma visão mais humanista, em que percebe o homem de maneira ontológica. Daí a importância de perceber o homem como sujeito do processo de organização, construção e transformação da sociedade. Sendo assim para Silva: 
 
O currículo é um dos locais privilegiados onde se entrecruzam saber e poder, representação e domínio, discurso e regulação. É também no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação de subjetividades sociais. Em suma, currículo, poder e identidades sociais estão mutuamente implicados. O currículo corporifica relações sociais (SILVA, 1996, p. 23).
 
Neste sentido, o currículo é visto como campo de relações de poder, ideologia e cultura.  Para que possamos compreender sua relação ideológica, segundo Moreira e Silva (1997) pode-se afirmar que esta é a veiculação de ideias que transmitem uma visão do mundo social vinculada aos interesses dos grupos situados em uma posição de vantagem na organização social. É através do currículo que é traduzida a linguagem do mundo social e uma linguagem que representa a classe burguesa.
 
É nos grupos sociais que seus membros se ajudam a assimilar a experiência culturalmente organizada e a converter-se, em membros ativos, adquiridos pela experiência social, historicamente acumulada e culturalmente organizada, isso nos remete a concepção de que o currículo também é inseparável da cultura.
 O ensaio de Althusser (1983) traz a ideologia e os aparelhos ideológicos do Estado, marcados por um momento de forte percepção da questão da ideologia em educação, pois, em uma sociedade capitalista àqueles Aparelhos Ideológicos utiliza-se de instrumentos que mascaram as contradições e contribuem para que o sujeito se torne alienado.
 
E neste contexto que o pensamento entre ideologia e cultura se dá em meio a relações de poder na sociedade, daí a importância de um processo educacional pautado em uma formação mais humanística para que o sujeito possa perceber as contradições inerentes em uma sociedade de classes. É através de um processo educacional que designe atividades onde seus membros adquiram experiências históricas socialmente acumuladas e culturalmente organizadas que podemos pensar em uma sociedade diferenciada. Portanto, o currículo tem ação direta ou indireta na formação de pessoas autônomas, conscientes, capazes de pensar, de interferir na sua realidade, solucionando problemas, sendo imprescindível na transformação ou manutenção das relações de poder e, portanto, nas mudanças sociais.
 
REFERÊNCIAS 
 
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
 
ARELARO, L. R. G. Resistência e Submissão: a reforma educacional na década de 1990. In: KRAWCZYK, N., CAMPOS, M. M.; HADDAD, S.(orgs.) O cenário educacional latino-americano no limiar do século XXI: reformas em debate. Campinas, SP: Autores Associados, 2000 – Coleção Educação Contemporânea.
 
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CAMPOS, F. D. Políticas Públicas. Rio Branco: CDHEP, 2002 (Cadernos Cidadania).
 
CIAVATTA, Maria; FRIGOTTO, Gaudêncio & RAMOS, Marise. (Orgs.). Ensino Médio Integrado: Concepções e contradições.  – São Paulo: Cortez, 2005
 
CIAVATTA, Maria; FRIGOTTO, Gaudêncio & RAMOS, Marise. APolítica de Educação  Profissional no governo Lula: um percurso histórico controvertido. In: Revista Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 92, p. 1087-1113, Especial - Out. 2005
 
COMENIUS, J. A. Didáctica Magna. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 
1985.
 
LIMA FILHO, Domingos Leite; MACHADO, Maria Margarida. Manifestação da Anped na Audiência Pública Nacional sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Brasília: CNE, 2012.
 
MOREIRA, A. F. & SILVA, T. T. Currículo, cultura e Sociedade (orgs.). 5a. Ed. São Paulo: Cortez, 2001.
 
MOURA, D. H. A relação entre a educação profissional e a educação básica na CONAE 2010: possibilidades e limites para a construção do novo plano nacional de educação. Educação e Sociedade, v. 31 n. 112 p. 875 – 894, jul-set/2010. 
 
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Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999
 
SAVIANI, Demerval. O choque teórico da politecnia. In: Trabalho, Educação e Saúde. 1 (1). 2003.
 
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documento de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

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