Daniel Costa

29/09/2017 09h37
É difícil para a turma da minha geração ver o mundo de outra forma que não seja sob um olhar positivista. Para esse pessoal, a sociedade aparenta estar em contínuo progresso avançando cada vez mais e melhor. 
 
Ao que me parece, essa forma de pensar tem relação com o fato de ter-mos vivido num período de democracia, nascidos durante os estertores da ditadura, vendo e ouvindo Tancredo Neves discursar na televisão sobre o Brasil que ressurgia a partir do sonho de uma nova Constituição, depois promulgada por Ulysses Guimarães. No mais, a derrocada de Fernando Collor havia sido apenas uma chuva passageira afastada pelos ventos da juventude dos caras pintadas. 
 
Direitos e liberdades, assim, aos olhos da rapaziada dos anos 80 e 90, são vistos como algo dado pela natureza, desvinculados, desse modo, das lutas travadas pelas suas conquistas, envoltas de sangue, suor e lágrimas. Também por isso, os períodos ditatoriais e as grandes guerras sempre pareceram algo remoto, parte de um passado sem volta. 
 
Existe aí, nesse modo de ver as coisas, uma carga de desconhecimento histórico e até mesmo de arrogância, como se avaliar o hoje com os olhos nos tempos idos fosse uma tentativa de perturbar os benfazejos caminhos do presente. Daí os memes que debocham das imagens de figuras torturadas, do pouco caso que se faz aos alertas para o retorno dos militares e das salvas de palmas para políticos do naipe de Jair Bolsonaro.  
 
Se não é recomendável decalcar os acontecimentos dos álbuns do passado para taxá-los como idênticos aos eventos do presente, tampouco é inteligente esquecer a história e deixar de lado os pontos de enrugamento capazes de clarear os caminhos do porvir.   
 
Logo que surgiu o partido nazista, ainda nos anos 30, quase uma década antes do início da II Guerra, algumas vozes, cônscias dos resultados da I Guerra,  já se levantavam contra os nacional-socialistas, que promoviam discursos anti-semitas e práticas de violência no seio da sociedade alemã. Por questões mera-mente ideológicas, entretanto, as autoridades alemãs, sob o olhar resignado da maioria da população, preferiram fazer vistas grossas para esses acontecimentos. E quando o país se deu conta, a Germânia já estava mergulhada no maremoto nacional-socialista, de resultado trágico conhecido por todos.  
 
As pessoas da minha geração, que criticam aqueles que alertam para os problemas do presente com apoio em fatos pretéritos, caem na esparrela ideoló-gica de achar que a história do homem é tão-somente a história do desenvolvi-mento e do progresso. Ou seja, agem como bárbaros do conhecimento, apropri-ando-se de um discurso positivista superado a duras penas, como demonstraram, da pior maneira possível, os campos de concentração nazistas e os porões da ditadura militar. 

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