Daniel Costa

14/09/2017 09h54
Os escândalos envolvendo políticos e empresários na prática de atos de corrupção têm sacudido a nação brasileira.
 
Seguindo o cheiro dos fatos, a cobertura jornalística mostra os detalhes dessas tramóias, encantando pessoas de Natal a Porto Alegre, que não perdem um segundo dos noticiários nacionais. Algo parecido com os antigos e famosos programas policiais, que angariavam tanta audiência pela via do sensacionalismo que alguns dos seus apresentadores, transformados em ídolos, chegaram a ser eleitos para cargos importantes do poder legislativo.
 
O problema é que as coisas não são mais como antes. A chamada grande mídia, habituada ao longo de décadas a dar publicidade apenas às informações que joguem lama nos seus desafetos, fazendo silêncio em relação aos malfeitos dos seus financiadores, agora está sentindo o poder das redes sociais, que alcançam milhões com suas notícias, de forma que muito mais pessoas colocam a boca no microfone,  produzindo uma maior onda de agitação.
 
A larga atuação da impressa marrom somada à força da internet, assim, acabou por causar uma revolta na população, que imagina estar o país completamente desmantelado.
 
E nessa conjuntura, se torna visível o despreparo de boa parte da classe intelectualizada do país, que assim como o velho Chacrinha, vem pra confundir e não pra explicar. É fácil ouvir das suas bocas, em tom professoral, que jamais houve tanta corrupção nestes trópicos; e que os governos anteriores instalaram na administração pública tantos desmandos e roubalheiras que agora é necessária a volta de um governo forte e fardado. Em claras palavras, o retorno ao modelo ditatorial de se governar.
 
É certo que muitos veem assim por desconhecimento da realidade. Já outros gritam dessa maneira porque querem mesmo rever a ditadura, já que dela se beneficiaram, ou viram seus chegados no berço quente do poder, ainda que sem mérito e sem concorrência.
 
Para os de boa-fé que pregam essas ideias por desconhecerem a crueza da história, vale lembrar que a cultura da corrupção com os recursos públicos sempre existiu no país. Nem mais, nem menos. Toda vida nesse mesmo nível. Mas por que hoje é só do que se fala?
 
Simples: pelo fato de o país viver seu mais longo período num regime democrático, de liberdades.“Nunca antes na história desse país” viu-se uma democracia durar tanto. De 88 para cá. Com instituições livres, mas combatidas pelas diversas redes de comunicação, quando navegam longe das águas que lhes são reservadas.
 
Daí, portanto, o despropósito que é a tese apregoada pela “sabedoria” de alguns de que a corrupção somente hoje tomou conta do Brasil. Não. Agora ela é divulgada,  dada ao conhecimento da sociedade e combatida com liberdade. O que antes jamais fora feito.
 
Vemos assim a astúcia da turma, que mesmo sabendo disso solta foguetões  aos regimes de força, como se eles fossem uma espécie de profeta que viria para pôr fim à corrupção e aos demais problemas que assolam o país. 
 
Sabem que não é assim. Eles querem mesmo, na maior esperteza, é acabar com o direito de se mostrar a todos como acontece a roubalheira e quem dela se beneficia. 

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