Daniel Costa

04/07/2017 18h13

Não há nenhuma novidade no desinteresse do homem comum pela atual situação econômica e política do país. As manifestações populares quase sempre encontram os seus limites no circuito dos movimentos partidários, do qual faz parte um grupo muito restrito de pessoas.

Os indivíduos em geral preferem o silêncio, mantendo uma atitude bovina de resignação. Parafraseando Timothy Leary, eles são apenas figurantes mal remunerados de um filme classe "B", incapazes de sentar no banco do motorista de seus próprios cérebros. No máximo, o que se vê é uma discordância tácita, um balançar de cabeça sem a pretensão de que suas ideias saiam de casa para alcançar as ruas.  Eles são enganados pelo Estado, pela grande imprensa, pelo capital, acreditando que estão contentes com seus insignificantes e miseráveis pedaços de vida. Por isso, não se deve esperar muito do cidadão. E talvez o melhor mesmo seja nada esperar.

Por outro lado, se o silêncio do homem comum não chega a causar uma dor no estômago, a passividade da classe artística é como um grande soco nas costelas. Afinal, são principalmente os artistas que conseguem, através da sua arte, revolver mentes e retirar alguns seres humanos da letargia.  Os artistas são capazes de mostrar a quanto as coisas andam. Eles explodem os padrões que impedem as pessoas de colocarem a cabeça para fora e verem a realidade além da sua banalidade. É assim que essa turma angaria alguns poucos soldados para as fileiras da resistência.  

Mas por onde andam esses artistas? Será que não existem novos Chico Buarque, Glauber Rocha, Geraldo Vandré, Gianfrancesco Guarnieri, e tantos outros que, num determinado momento, conseguiram ajudar na transformação de uma realidade que parecia desalentadora? A sociedade do individualismo total terá suturado os espaços por onde saíam esses tipos que faziam arte reflexiva e contestatória, para dar lugar àqueles que hoje praticam somente a arte do comércio?

Alguém pode dizer que eles existem e que estão por aí vagando sem um lugar próprio em que possam brilhar, e que, a bem da verdade, "a arte não chega e deita nas camas que arrumamos para ela. Ela desaparece assim que o seu nome é mencionado".

Isso sugere uma meia verdade, já que exigir o engajamento do artista pode realmente matar a própria arte, mas, por outro lado, no momento em que as conexões virtuais permitem que os desconhecidos lancem as suas ideias para um grande público, sem a necessidade de intermediários, não é possível esconder a boa arte que faz crítica e que é libertadora.

De uma forma ou de outra, é  desalentador perceber que mesmo diante de todo o caos instalado, só seja possível ouvir as velhas vozes. Talvez o rap nacional se apresente como uma exceção. Mas é muito pouco. A sociedade brasileira clama pela arte que chega, que aniquila, que abre mentes e transforma corações.


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