Daniel Costa

19/05/2017 10h54
O golpe continua a sua marcha e mostra que não existe nenhuma chance de que Lula ou qualquer outro político vinculado às linhas progressistas retornem ao poder central. A previsão dos golpistas, e aqui leia-se o grande capital, era a de que com a retirada a fórceps de Dilma Rousseff, presidenta eleita democraticamente, as coisas estariam mais ou menos resolvidas, com a Lava Jato concluindo o restante do trabalho sujo, criminalizando Luiz Inácio e o PT. Ponto final. 
 
Contrariando as expectativas, porém, isso não aconteceu. Muito pelo contrário. O que se viu nos últimos meses foi o crescimento vertiginoso do ex-presidente nas pesquisas relacionadas à corrida presidencial, além de uma dificuldade latente do juiz Sérgio Moro em conseguir enquadrar criminalmente o Barbudo, à vista da ausência de provas robustas, suficientes para gerarem manchetes comprometedoras, capazes de fulminar as intenções de voto que ele carrega no bolso do blusão, a menos de 2 anos da próxima e hipotética corrida presidencial. 
 
Mas o certo é que, diante dessa possibilidade, a turma do dinheiro não se fez de rogada e resolveu pôr no chão a segunda perna do golpe. As declarações de um grupo de empresários na última semana, no sentido de ser necessária a retirada de Lula do páreo eleitoral, inclusive, se preciso, com interferência dos militares, já deixava no ar o odor metálico de que as coisas deveriam tomar outro rumo. Daí para o início das ma-quinações que buscam amputar Michel Temer foi um pulo. Aliás, um pulo que se deu com o apoio explícito da Rede Globo, que furou a notícia do envolvimento do presiden-te na prática de uma rotunda corrupção, o que torna insustentável sua permanência à frente do executivo. 
 
Esse tiro a queima-roupa no peito de Temer, por sua vez, significa a rea-lização de uma eleição indireta, sem a participação popular. O novo presidente, desse modo, será escolhido pelo Congresso, após ter o seu nome abençoado pelos donos do poder financeiro. Depois disso, com a maioria do legislativo nas mãos, não haverá grandes dificuldades para ver-se aprovada uma emenda constitucional prolongando o mandato presidencial. Na verdade, para que isso aconteça basta uma maquiada nos índi-ces econômicos e o apoio de relativa parcela da população (e a classe média está sempre pronta, de braços abertos, para dar essa mãozinha).
 
E onde entra Aécio e a divulgação dos seus ilícitos nessa história toda? Aí a explicação parece vir da velha disputa entre São Paulo e Minas Gerais pela gerência do executivo federal. O desmantelamento dos esquemas do senador mineiro se afigura suficiente para deixar entrever que não haverá espaço para uma presidência nascida em berço de tropeiro. De maneira que, o novo presidente, eleito pelas mãos dos golpistas, deverá ser mesmo algum todo poderoso da terra do café, ou alguém devidamente obediente a força do capital paulista. 
 
No mais, se toda essa trama descer a ladeira por conta de uma remotíssi-ma revolta popular, aí será chegada a hora de colocar em prática a terceira e derradeira perna do golpe: a intervenção militar. Como falou há pouquíssimo tempo o atual ministro da defesa Raul Jungmann, "[os militares] estão preocupados com a perspectiva de, não revertido o quadro de deterioração em curso, se verem convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem (...) Hoje, os militares não desejam ou identificam motivos para nele intervir (...) Porém, temem que A IRRESOLUÇÃO DA CRISE E SEU AGRAVAMENTO OS TIRE DOS QUARTÉIS (...)". 
 
Diante da barafunda em que se enfiou o país, não é bom duvidar de que isso possa realmente acontecer. 

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