Cefas Carvalho

10/05/2017 22h05

Há muito hoje na política para ficarmos indignados, estarrecidos e desconfiados: Reformas Trabalhista e da Previdência, deputados e senadores envolvidos em maracutaias, Operação Lava Jato, escândalos, más gestões, enfim, um leque de dissabores para cavaleiros do apocalipse nenhum botarem defeito.

Porém, mesmo com tantas coisas atrozes, a fato político que mais me chocou nos últimos tempos foi o prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB) ter jogado na rua flores que ele recebeu.

O contexto é conhecido: uma ciclista de meia idade aproveitou que Dória entrava em seu veículo ao fim de um evento para dar-lhe de maneira irônica um ramo de flores amarelas em memória dos ciclistas mortos após o aumento da velocidade nas marginais, autorizado pelo prefeito.

A reação de Dória, sabe, foi rejeitar as flores. A senhora estirou o braço e colocou-as dentro do carro, próxima ao porta-luvas. Imediatamente o prefeito atirou-as com rispidez na rua.

O fato em si foi corriqueiro, banal mesmo. Mas o descontrole emocional de Dória e a incapacidade dele em ser contrariado me assustaram.

Não tenho nenhuma simpatia por Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso, ACM Neto, Eduardo Paes, por exemplo. Mas, alguém imaginaria eles jogando ao chão uma flor dada, ainda que por uma adversária política, de uma senhora de maneira pacífica?

Claro que não. Eles tem seus - muitos - defeitos, mas sabem fazer política. E que política é a arte de conviver com o outro. Com o que não se gosta.

Bolsonaro é outro exemplo, este mais caricato e brutal, de político que não faz política real. Não consegue conviver com nada que não esteja dentro do seu - limitado - universo.

Mas, Dória vai mais além, como até comentaram amigos meus nas redes, e por isso, mais perigoso que Bolsonaro, talvez. Dória é o exemplo mais bem acabado de mimado. Aquela criatura acostumada a ter tudo nas mãos e que a qualquer contrariedade faz beicinho e fica agressivo.

Em menos de 4 meses de administração ele já mostrou essas características meia dúzia de vezes.

E vai mostra-la muito mais. Tanto que mesmo veículos imparciais (se é que isso existe) começaram a produzir matérias sobre o "verdadeiro Dória" para além do dinheiro e do marketing.

Dória já vem plantando seu nome para presidente em 2018, dentro da estratégia de "não político" e "gestor" que seu marketing tenta vender.

Mas episódios de uma grosseria gratuita e falta de inteligência emocional como e das flores mostram que a pretensão presidencial pode ficar pelo caminho. Com as flores vencendo o canhão do marketing.


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