Evandro Borges

17/04/2017 09h15
Conheci José Ferreira de Lima  (Zé Ferreira) ainda estudante de direito, dividindo um microfone em uma passeata da FETARN para o INCRA ao final da ditadura, sindicalista de São Gonçalo do Amarante, agricultor, forjado na lide, trabalhou alugado, enfrentou as tarefas da emergência, chegou a Presidência do Sindicato, constituiu uma família, encaminhou seus filhos na jornada da vida humana.
 
No domingo de páscoa foi desbravar os céus, mas, foi um daqueles temperados na luta, enfrentou vários conflitos de terra em São Gonçalo, eram as ações possessórias, de reintegração, manutenção e interdito proibitório, quantas vezes fomos à delegacia, intimados e outras acompanhando os trabalhadores e trabalhadoras, quantas ações de indenização em razão dos fazendeiros não respeitarem a agricultura dos trabalhadores, uma rotina naqueles tempos, conheceu a luta de classe encarniçada.
 
Nos tempos da Constituinte de 87/88 foi em muitas delegações a Brasília, de ônibus, com outros tantos dirigentes sindicais, e na capital federal, tome passeatas, concentrações no congresso, participei em uma dessas ao seu lado, nem precisa dizer que no início da noite estávamos sangrando pelo nariz, em face do clima, serviu como um aprendizado para o que vinha depois das lutas campesinas.
 
Em seguida, foram as primeiras desapropriações para fins de Reforma Agrária, nada fácil, enfrentamento com a Polícia, mobilizar os agricultores e agricultoras, assumiu a secretária da Reforma Agrária da FETARN com muita firmeza, e depois, ocupações dos Bancos e da SUDENE, para garantir o PRONAF, e outras políticas e programas públicos.
 
No Rio Grande do Norte passou participar das campanhas salariais canavieiras de forma decisiva, por melhoria salarial, para acabarem os “caminhões gaiolos” de transporte dos trabalhadores que via de regra se acidentava, e a extinção dos acampamentos, verdadeiras senzalas, com mobilizações à noite e de madrugada, enfrentando os bandos armados das Usinas acobertadas pela Polícia.
 
Zé Ferreira colaborou intensamente na organização sindical, fundou sindicatos, ergueu muitos, sempre de forma aberta, construindo o diálogo, era radical nas suas convicções, mas tolerante, conciliador, e as questões coletivas estavam acima das individuais, ocupou diversos cargos na FETARN  e teve na Presidência em curtos períodos, honesto, justo e não tolerava o nepotismo.
 
Era um homem do seu tempo, de seus valores, construiu amizades fortes, algumas foram efêmeras, mas a vida é assim, de encontros, reencontros e novos encontros, radicou-se em Macaíba, Igreja Nova é seu torrão, comunidade na confluência de São Gonçalo do Amarante e Macaíba, jogou no Leão de Ouro, é beneficiário da Reforma Agrária, pode ficar tranquilo amigo, você cumpriu a sua missão de forma exemplar.

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