Cefas Carvalho

08/04/2017 23h20

Madrugada insone dessas um amigo de Facebook, que sequer conheço na vida real, pula para perguntar minha opinião sobre a Venezuela. "Deve ser um país bacana, meu pai gostava muito de lá", respondi. Ele se irritou e disse que perguntava sobre a questão política, Maduro, chavismo etc. Respondi que não opinava sobre Venezuela, nunca fui para lá, não tenho muito interesse no país, confesso, independentemente de quem o governe. O sujeito tentou me pressionar, argumentei sono e saí da conversa.

Mas, é sério. Não tenho razão alguma para me deter nos problemas venezuelanos, assim como não tenho porque faze-los nos problemas da Argentina, Colômbia, Uruguai, Cuba, Trinidad e Tobago, México. Respeito estes países todos, gosto da sensação de "irmandade latino americana", eco dos meus anos 90 de devoto de Eduardo Galeano, Victor Jara e Violeta Parra, mas, hoje, em pleno 2017, me preocupo mais com os problemas paroquiais e nacionais que os estrangeiros, seja da Venezuela, Holanda, Austrália ou Paquistão.

E tenho dificuldade em entender a obsessão de alguns amigos pela Venezuela e por Cuba. Eles internalizaram nestes dois países toda uma pauta "de Esquerda" que eles condenam e daí se detém mais neles do que onde moram.

Portanto, tenho amigos natalenses mais preocupados com Maduro do que com os atrasos no pagamento do funcionalismo pelo Governo Robinson ou com Carlos Eduardo ás voltas com o NatalPrev. Gente que posta vídeos de violência em Caracas mas nunca sobre a violência em Felipe Camarão,  nas Rocas e jamais falou uma palavra quando da crise e rebelião em Alcaçuz.

A Venezuela está em crise, não é? Sim. Pelo que sei Haiti também, crise crônica. Grécia idem. Mas, Haiti e Grécia têm regimes capitalistas, então, não tem graça falar, não é? Na verdade, é sempre estranho quem se detém mais no Global do que no local. É como se temesse algo, alguma represália, alguma crítica, e se sentisse confortável quando sentando o sarrafo em uma esfera que não vai lhe atingir.

Chamar Lula de ladrão e Dilma de vagabunda é fácil. São políticos nacionais, o primeiro mora em São Bernardo do Campo, a segunda entre Porto Alegre e Rio de Janeiro. Estes haters usam os mesmos termos ao se referir ao governador, ao prefeito, aos deputados e deputadas, aos vereadores e vereadoras? Sabemos que não.

Por curiosidade, vou na página do amigo do primeiro parágrafo, que mora em Mossoró, e vejo posts contra Maduro, contra bolivarianismo e sobre os EUA. Aí nos blogs dos amigos jornalistas mossoroenses leio sobre a onda de assassinatos na Terra de Santa Luzia. E sobre as dificuldades do governo Rosalba. E dos conflitos na Câmara Municipal.

A cidade dele pegando fogo e o amigo - que acho que vai desfazer a amizade virtual após ler esse texto - analisando Venezuela, Marine le Pen e Trump. Como dizem os adolescentes hoje, tá serto!


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