Cefas Carvalho

10/03/2017 13h07
Há algumas semanas semanas escrevi aqui neste espaço sobre o fato de minha filha e minha enteada, assim como tantas outras pré-adolescentes, detestaram as estampas delicadas das camisas femininas. Nem toda menina quer usar cor de rosa, Minie e gatinhos, muitas preferem Star Wars, Harry Potter e estampas de futebol.
 
Isso me meio à mente por duas razões, ambas a ver com o Dia Internacional da Mulher, que se celebra neste 8 de março. A primeira ao ler desabafos nas timelines de pelo menos meia dúzia de amigas sobre o enfado e aborrecimento em, nesta data, elas receberem rosas, chocolates e mensagens de felicitações, em vez de respeito, igualdade, não apenas neste dia 8, mas todos os outros dias.
 
A segunda razão veio de uma pesquisa para um post sobre a data. Ao pesquisar o ícone imagens no Google com o termo "Semana da Mulher" quase tudo que apareceu foi em cor de rosa e com mensagens suaves e delicadas, como no print que fiz para ilustrar este texto.
 
Elas têm razão em reclamar: para muitos, muitos homens - talvez eu incluso - Dia da Mulher é data para se comprar um buquê aqui, parabenizar umas amigas ali, uns bombons para as esposas e namoradas e talvez presentes embalados em papel cor de rosa, claro, com detalhes de florzinhas e ursinhos.
 
Tudo errado. De onde veio exatamente essa nossa percepção que em pleno 2017 as mulheres ainda vivem ou querem viver nesse mundo de princesa da Disney, se nem as princesas da Disney são mais assim (vide Moana e as que estão para vir!)? Na verdade, sabemos de onde veio essa cultura: a questão maior é entender porque ela demora tanto para sair de todos nós, homens, ainda aturdidos com as mudanças  - necessárias, justas e irreversíveis - na relação entre sexos e o papel da mulher na sociedade moderna, tecnológica e de inclusão digital.
 
Faço meu mea culpa com frequência. Já cometi meus erros em relação a machismo e me esforço para não repeti-los. Tenho muito ainda a apreender e muitas atitudes a evitar, tarefa de desconstrução e reconstrução em que sou ajudado por filha, irmã, namorada, enteada, sobrinhas e amigas. Processo nem sempre fácil, principalmente para minha geração na faixa dos 40 de criação bem machista, mas necessário.
 
E neste processo, a percepção de que esta data de hoje não cabe necessariamente os chocolatinhos e apupos, mas a luta! Uma luta que as mulheres têm efetivamente que encampar em um país onde o machismo está arraigado na cultura, o feminicídio apresenta índices alarmantes e a desigualdade salarial e de direitos é, infelizmente, um fato.
 
Já sei que os amigos machistas vão pinotar: "Ah, agora não se pode nem mais dar bombons para a mulher?" Claro que pode, e temos além deste dia 8, mais 364 dias para faze-lo. Mas, neste Dia da Mulher (e nos demais, claro) além de pensar em chocolates, flores e mensagens cor de rosa no Facebook, podemos, nós homens, fazer nossa autocrítica, dimensionar os problemas que as mulheres brasileiras ainda vivem (do feminicídio ao assédio em ônibus, por exemplo). Como disse uma amiga minha nas redes sociais, chocolate é bom, mas empatia e respeito, mais ainda.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).