Cefas Carvalho

10/02/2017 01h28

Como muita gente previa, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes foi escolhido pelo presidente golpista Michel Temer para ocupar a vaga de Teori Zavaski no Supremo Tribunal Federal. Falava-se em Ivis Gandra Filho e mais dois ou três nomes. Deu Morais mesmo.

Escolha que, por um lado - o mais cínico deles, claro - é coerente: o consórcio entre PMDB, PSDB, Poder Econômico e Grande Mídia para apear do poder a democraticamente eleita Dilma Rousseff a cada diz que passa perde aquele verniz de legalidade que ostentava há meses.

Embora coerente com a pauta de horrores e tentativa de desconstruir o que foi feito pelas gestões anteriores - democraticamente eleitas, repito - não se trata de uma decisão moral e ética. A escolha de Moraes é um acinte sob qualquer prisma.

E nada de "advogado do PCC". Isso não é argumento. Como já disseram aqui, mesmo o pior dos criminosos tem direito à defesa e a um advogado. O primeiro problema é Moraes ser ministro da Justiça de Temer. Nunca antes neste país, como diria Lula, um presidente escolhe seu atual ministro da Justiça para ministro do STF.

Para piorar, Moraes é ungido em plena crise carcerária, crise que ela não conseguiu resolver, nem sequer administrar.

Mas, pode piorar: Moraes é filiado ao PSDB, desde 2015. E fez sua carreira - política, não jurídica - nos governos tucanos em São Paulo, onde se celebrizou por mandar bater em estudante e manifestantes em geral.

Seu nome já está sendo contestado por juristas, e não necessariamente de Esquerda, que não vem nele, de apenas 47 anos, o conhecimento jurídico e experiência para o cargo.

Pode se não gostar ou não concordar com as decisões de Marco Aurélio Mello, Edson Facchin, Ricardo Lewandovski, mas não se pode negar a cultura jurídica de cada um deles. Já Alexandre, há poucas semanas estava sendo fotografado capinando pés de maconha, como disse Fernando Morais, em sua cruzada quixotesca e idiota para "erradicar a maconha da América do Sul", como disse.

Pode piorar? Pode. Passo a palavra para o jornalista Bob Fernandes, de quem pincei este raciocínio:

"Se aprovado no Senado, onde o governo Temet tem ampla maioria, Alexandre será recisor em certos casos da Lava Jato.

Alexandre é ministro da Justiça de Temer. Temer foi citado 43 vezes em delação da Odebrecht na Lava Jato.

Temer acaba de tornar ministro o secretário Moreira Franco. O "Angorá", citado 34 vezes na mesma delação da Odebrecht.

Ministro tem foro privilegiado, só pode ser julgado pelo Supremo. Nesse caso, não pelo juiz Moro.

Moro que ordenou gravar conversa da presidente Dilma com Lula quando Dilma nomeou Lula ministro.

Gravação vazada para impedir que Lula obtivesse foro privilegiado ao ser efetivado como ministro.

Gravação ilegal pela captação, e divulgação pelo próprio Moro, de conversa da presidente Dilma, que não era investigada.

Alexandre de Moraes foi Secretário de Segurança Pública do governo Alckmin. O governador de São Paulo, segundo vazamentos, seria o "Santo" em planilhas da Odebrecht."

Bob Fernandes raciocina que a escolha de Moraes é um absurdo do ponto de vista da ética política. E é mesmo. Uma ética que o consórcio do Golpe, jamais teve, afinal, como disse Romero Jucá, "temos que estancar a sangria".

Com um ministro do PSDB no STF ficará mais fácil.

Mas, precisamos falar sobre nós todos, a população.

Temer só fez isso porque confia na inércia de todos nós, da incapacidade de reação em que nos atolamos, em parte pelos equivocos quase cotidianos da Esquerda. Mas, independente dos erros dos partidos de Esquerda, é lamentável assistir a Temer e seus beneficiários da "sangria estancada" perderem não o charme que jamais tiveram, mas, a discrição. Que suas excelências Carmen Lúcia, Rosa Weber, Facchin, Fux, Celso de Mello e demais tenham bons momentos com o novo colega.


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