Valério Mesquita

17/01/2017 00h34

01) Diógenes da Cunha Lima, advogado e poeta, iria tomar posse na presidência da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Para a sua surpresa e orgulho para qualquer intelectual da província, foi homenageado com a presença do sociólogo Gilberto Freire. Ano seguinte, o gênio de Apipucos aniversariava e Diógenes julgou-se no dever de restituir a delicadeza de sua visita. A essa altura, o poeta novacruzense e condestável do Curimataú, já envergava a pose de reitor da UFRN e as hosanas da presidência do Conselho Federal de Reitores das Universidades Brasileiras. Gilberto Freire, amado e idolatrado no Recife, recebia em sua casa uma homenagem supimpa, com toda pompa e circunstância. A dita imprensa falada, escrita e televisiva estava em profusão e documentava tudo em seus mínimos detalhes. Até o então Ministro da Educação e Cultura Eduardo Portela estava lá. Nisso, entra triunfal em cena o nosso impávido Diógenes, sentindo-se o primeiro dos homens. Após alguns passos no grande e decorado jardim, acompanhado e encandeado pelos difusos refletores, não percebeu que, a sua frente, a piscina havia sido coberta por uma lona de cor do assoalho, o que impedia o nosso Diógenes (que não conduzia a famosa lâmpada) distinguir com nitidez o chão, e, ao mesmo tempo, cumprimentar os convivas. De repente, explodiu lamurioso e sonoro aquele óóóóóóó.... De terno e gravata, Cunha Lima caiu na piscina de forma monumental e olímpica, como diria qualquer Galvão Bueno. Nadando cachorrinho para chegar a margem, o reitor era a própria imagem do desespero e o último dos homens. Encharcado tal e qual um sabiá molhado, ainda ouviu da esposa do anfitrião uma piadinha que parecia um “tiro de misericórdia”: “Diógenes, quando quiser tomar banho na nossa piscina, traga o calção...”. Içado a presença das autoridades, viu, contudo, o mestre Gilberto Freire, num fidalgo gesto, reunir ao seu redor os jornalistas para dizer em tom grave mas paternal: “Diógenes é meu amigo. É o reitor da UFRN e do Conselho Federal dos Reitores deste país. Não quero de vocês nenhuma linha sobre o assunto”. Gilberto Freire foi prontamente atendido pela imprensa pernambucana. E com a autorização de Diógenes, tanto tempo depois, o fato saiu do anonimato.

02) Lembrei-me de outra história do barbeiro do antigo Natal Clube, narrada por Diógenes da Cunha Lima. O deputado Djalma Marinho estava de malas prontas para viajar ao Vaticano. Fazia o cabelo no Natal Clube quando o barbeiro, muito católico, lhe pediu para que trouxesse do papa uma bênção especial. Promessa feita, viaja Djalma. No regresso, o crédulo barbeiro pergunta pela bênção papal. Desligado e imaginoso, como sempre, o nosso Djalma saiu-se com uma desculpa que pode servir de exemplo aos atuais peregrinos. “Não trouxe a mensagem do Papa”, disse o deputado, “Porque no momento que o cumprimentei ele surpreso, indagou: “Peregrino, peregrino quem foi o infeliz que estragou o seu cabelo””.
 


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