Daniel Costa

16/01/2017 01h24

É impressionante como “um bar para chamar de seu” é importante para qualquer homem. Acabei de constatar isso nessas duas semanas em que pulei fora de Natal para uma temporada de trabalho. Não se identificar com os bares de uma nova cidade é algo realmente muito duro. A sensação de ser um forasteiro decuplica!

Acho que foi por isso que acabei constatando o quanto é importante ter um bar para curar as mazelas do dia a dia. Não estou falando de qualquer bar. Refiro-me àquele tipo com balcão (o altar sagrado), com pessoas excêntricas, exóticas, misteriosas, expansivas e até uns filhos da mãe, de vez em quando. Bar em que as pessoas idolatram suas bebidas preferidas, seus autores preferidos, seus discos e livros. E nada mais. Bares com musas inatingíveis e verdadeiras “pistoleiras” (que atiram para todos os lados). Enfim, não é aquele tipo de lugar em que as pessoas contam anedotas, causos ou histórias. Não. É de uma estirpe muito mais rara: um bar que escreve a sua própria história e todos querem fazer parte dela!

O Wesley’s Bar é um dos únicos de Natal que pode se orgulhar de ter uma história para contar. E que nunca termina! Não é à toa que os antigos frequentadores são reverenciados como membros de uma família real e os novos “habitués” são vistos como verdadeiros caçadores em busca do tesouro perdido. A prova disso é que é comum ouvir conversas do tipo:

 – Aquele cara no balcão é muito gente fina...

– Qual, o de amarelo? Você  sabe  o nome dele?

– Não sei, é a primeira vez que vem no bar, mas é um sujeito realmente admirável!

Os russos vão aos bares para espantar o frio, os ingleses vão para beber, os irlandeses vão para brigar. E ouso dizer que nós, brasileiros, vamos para viver! É ótimo chegar no bar, com o pretexto de um whiskyzinho antes de dormir, e encontrar amigos, ou mesmo desconhecidos, que escutam problemas e apresentam soluções (ou só falam deles mesmos, deixando a gente com aquela egocêntrica e agradável sensação de que tem sempre alguém mais lascado).

Fazemos amigos, romances passageiros e alguns até conseguem namoradas... Mas nunca fazemos inimigos! E, engraçado, tem até os casos surpreendentes, como o do meu amigo Glay, que estava com o notebook quebrado na mala do carro, conheceu um técnico no balcão do bar, entregou a maravilha tecnológica lá mesmo e recebeu-a dois dias depois. E de graça! E ainda tem gente que diz que bares não são lugares para pessoas decentes.

Estou realmente numa crise horrível desde que deixei Natal. Mas quando a coisa aqui fica intolerável, corro pra rodoviária, faço uma viagem de 30 minutos até uma cidade movimentada, e procuro pelos bares que escrevem as suas próprias histórias, tipo este em que estou agora, com um cachorro andando pelas mesas, de cachecol pra espantar o frio!


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