Cefas Carvalho

30/12/2016 10h59
Mulheres gordas e bêbadas dançando forró de biquíni, anões salientes, gente escorregando em banheira de motel, orgias, fotos de pênis, de diversos tamanhos e formatos, mulheres banguelas. Também orações, correntes de reza, foto de crianças com câncer. Piadas, quase todas bastante conhecidas. Memes, quase sempre agressivos. Contra Lula. Mas tem também contra Aécio, contra quase todos na verdade. 
 
Esse é o mundo - fotos, vídeos, textos, imagens diversas - a qual é submetida qualquer criatura que participe de um grupo do aplicativo Whattzap. "Grupos do Zap" viraram uma febre, não participar deles é quase como gritar que a Terra é redonda em plena Idade Média.
 
Claro que faço parte de alguns deles. Grupos de trabalho, de interesses específicos. De família pequena, do "Grupo de Zap da família" escapei. Na verdade, escapei de muitos outros também, que me colocaram ou tentaram me colocar, mas que recusei polidamente ou saí. Alguns, muito legais, peço até desculpas públicas por neles não continuar, devido à falta de tempo para interagir.
 
Mas a grande maioria é infestado com o que descrevi no primeiro parágrafo.
 
Cada vez menos entendo (ou tolero) essa necessidade humana de compartilhar tudo, que os grupos de zap estão levando à potência máxima.
 
Recebeu foto pornô de uma suruba? Oba, vou mandar para meus 35 grupos de zap! Soube daquela piada machista contada em bares há quarenta anos? Ah, mandar para meus 450 amigos do zap. Vídeo de desgraça ou gente sendo humilhada? Apagar para que, vou é mandar para o grupo da família, as tias de setenta anos vão adorar ver isso!
 
Não se trata de juízo de valor do conteúdo. Posso gostar de assistir vídeo de orgias, mas, posso não querer recebe-los em meu celular. Uma pessoa pode ser religiosa e ter trabalho voluntário, mas, pode não querer receber "correntes" nem fotos de crianças doentes. 
 
Zap demais para bom senso de menos. Falei acima da questão do excesso. Há a falta de especificidade. Cria-se um grupo para debater política e conjuntura nacional e aí alguém manda uma oração. Outros fazem um grupo para se informar sobre programação cultural e de lazer e logo vem um e manda um vídeo de um casal dançando no motel. Desvirtuou a ideia original do grupo, saio na hora.
 
Além dos fatores excesso e bom senso, há o fator tempo. Coincidentemente, nesta semana uma amiga querida e outros dois amigos, um muito próximo e outro virtual, comentaram publicamente que haviam saído ou excluído grupos de zap para dedicarem mais tempo às coisas que realmente importam na vida. 
 
Quando eu participava de alguns grupos de zap (nunca mais de seis ao mesmo tempo), situação recorrente era estar com os filhos, mãe, namorada ou amigos e de repente ouvir o sinal de mensagem chegando: lá ia eu conferir, claro, poderia ser algo importante ou relativo a trabalho, e, u-la-la, mais um vídeo de putaria do amigo que acha que eu e os demais membros do grupo não temos acesso a XVideos em casa. Ou corrente de oração para salvar a vida de menininha com câncer lá no Suriname. Outras vezes, meme chamando a Dilma de anta e puta. Enfim, como diria Renato Russo, tempo pedido.
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).