Daniel Costa

23/12/2016 12h10

Estou ficando velho, chato e sem cabelo. O cabelo e as marcas de expressão são obras da genética. Já a chatice acho que tem a ver com o lance de querer pensar todas as coisas da vida sob um viés cientificista: desde uma cusparada certeira no lixeiro, até a alta do preço da Heineken. Tudo tem que ter uma razão e não pode ser apenas culpa do acaso.

Agora mesmo acabei de atravessar a Salgado Filho e fiquei fulo da vida com aquelas árvores tomadas por luzinhas piscando sem parar. Pensei sobre o desnecessário gasto de dinheiro com esses troços triviais em alusão ao Natal, que só servem para encher os cofres dos empresários, que no final das contas nadam de braçadas nos dólares que a turba deixa nas lojas dos shoppings centers. Não aguento esse consumismo desmedido. É por isso que a trilha sonora das minhas últimas semanas tem sido Garotos Podres. Ra rá.

O pior é que hoje estou numa situação perigosa, beco sem saída mesmo: vou ser pai. E pensar nisso racionalmente é algo bem alarmante. Digo, como é que dá para aguentar cinco minutos de sanidade, quando a necessidade do dinheiro das fraudas e dos presentinhos de Natal estão batendo na minha porta? Será que aquele livro que o tio me mandou sobre inteligência emocional e a arte de educar serve mesmo?  


Enfim, minha esperança é que quando nasça o meu filho eu me desapegue das coisas da ciência e comece a acreditar em divindades, aparecimento de Cristo, Reis Magos e tralalá. Quem sabe eu consiga aceitar outras formas de compreensão humana e comece a ver aqueles enfeites de fim de ano com outros olhos. Talvez com o meu olhar de criança, que ado-rava o mês de dezembro, que contava os dias para que chegasse a noite de Natal, quando vestia novas roupas e junto com os meus pais e as minhas irmãs partíamos em direção ao centro da cidade, admirando no caminho os adornos que coloriam as casas da Prudente de Morais.

Naquele tempo, sem o racionalismo para encher meu saco, tudo era simples e maravilhoso. Eu tinha medo do Papai Noel, cantava as musiquinhas que rolavam na missa, e curtia pra valer a ceia natalina e o abrir de presentes na casa da vovó, junto com o encontro entre tios e primos. Uma forma trivial de ver as coisas, que foi se perdendo na medida em que as tretas com os colegas da rua, o bullying sofrido na escola, os Ratos de Porão e o velho Maximo Gorki, com os seus contos de trabalhadores ébrios e miseráveis, começaram a entrar na minha rotina e a complicar esse lance de viver na base do simples e do maravilhoso, em que o brilho de um conjunto de luzinhas é puro encantamento, e não um artifício comercial que hipnotiza qualquer indivíduo que pense em manter-se a duzentos metros de distância de um shopping center.


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).