Cefas Carvalho

04/11/2016 10h40
Os últimos três anos têm sido de intensa polarização e radicalismo tanto na vida real como nas redes sociais, nestas, graças aos supostos anonimato e impunidade,, bem mais.
 
Eu e muita gente perdemos amigos e arranhamos amizades neste processo. Visceralidade de todos os lados, excessos por vezes. Efeito colateral de um país divido em dois.
 
No doloroso processo que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff, testemunhei em posts alheios e recebi nos meus, muitas mensagens gritando contra Dilma, contra Lula, contra o PT e quase sempre enfocando a corrupção, como se o partido a tivesse inventado e ela estivesse no DNA dos petistas e de qualquer um que simpatize ou vote no partido.
 
Cheguei a ser ofendido publicamente nos comentários do post de um amigo, estranhamente omisso em relação à agressividade do seu outro amigo, por ser "petista safado, que certamente suga dinheiro público" entre outros elogios. Depois descobri que o dito cujo trabalhou para José Agripino, de quem é lambe botas, mas não vem ao caso, é tema para outra crônica. O cerne da questão é que no processo que culminou com o afastamento de Dilma e ascensão de Temer ao poder, a pauta principal - e destaque nos protestos daquela gente branca e bonita com camisa da CBF na rua - era sempre o combate à corrupção.
 
Da mesma forma, quando eu e outros amigos apontávamos a omissão e contradições do Supremo Tribunal Federal, outros amigos intervinham com indignação, lembrando da capacidade jurídica e brilhantismo dos ilustres ministros e etc e tal. Em mais de uma ocasião quase me indispus com amigos que se aferravam á ideia de que se o STF respaldava o impeachment era porque tudo estava correto, afinal "se não pudermos confiar na honestidade e sabedoria do Supremo, vamos confiar em quê?", questionou um amigo.
 
Pois passados alguns meses do afastamento definitivo de Dilma graças a "pedaladas fiscais" corriqueiras entre gestores e nem um sequer registro dela com corrupção, vemos os tais casos de corrupção aflorarem nos noticiários diariamente. Delações e evidências contra Temer, Serra, Jucá. Em alguns casos, mais que isso: Cunha já é réu em diversos processos, alguns com provas concretas de corrupção. E recentemente, teve o nome envolvido em mais um escândalo, envolvendo a Caixa Econômica, agora com o velho conhecido dos potiguares, ex-deputado Henrique Eduardo Alves.
 
E eis que aquele pessoal que pulava para achincalhar Lula, Dilma e PT - por serem corrutos, claro - de repente mantém silêncio sepulcral em relação a Henrique Alves. Se em relação a Cunha, Temer e Renan, ainda soltam, umas farpas bem de vez em quando e bem genéricas, quando a coisa é com nosso conterrâneo, tudo muda.
 
Por diversão e uma pitada de maldade, admito, escolhi três amigos que pediam o fim da corrupção (querendo a queda de Dilma e o fim do PT, claro) para stalkear a timeline deles nos últimos dias: fotos de animais fofinhos, paisagens, letras de música, fotos antigas. Sobre Cunha, Temer, Jucá, Cunha e Henrique nada! Mesmo Henrique sendo manchete de matérias no Globo, Folha, Estadão, UOL, iG, G1 e Terra (fiz todos os prints para mandar para eles se necessário fosse)
 
E após a decisão do Supremo de permitir o desconto nos salários dos servidores que fazem greve, fui também conferir qual a posição daquele pessoal que tinha o STF como bastião maior da moral e da correção. Nenhuma palavra também. 
 
Talvez agora a ficha esteja caindo. E a admissão desta ficha que cai seja justamente o silêncio. Constrangido, claro. Só isso explica gente que há seis meses postava e comentava política uma dezena de vezes por dia hoje se dedique a postar vídeos de gatinhos e videos de Dolores Duran.
 

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