Cefas Carvalho

23/06/2016 00h00

Jornalista, cronista, poeta e militante das artes no bravo país de Mossoró, Caio César Muniz é cearense de Iracema, mas radicado na cidade que expulsou Lampião desde 1992. Publicou seu primeiro livro em 1996, “E na Solidão Escrevi”. São de sua autoria ainda “Notívago” (1998) e “Sobre o Tempo e as Coisas”, ambos também de poesia. É fundador da POEMA – Poetas e Prosadores de Mossoró e foi editor da já lendária Coleção Mossoroense ao lado do professor Vingt-un Rosado e também editor de cultura do jornal O Mossoroense. Há pouco mais de um mês, lançou em terras mossoroenses seu mais novo livro "Crônicas a Temporais", bancado por conta própria e com venda antecipada e por demanda, maneira encontrada para vencer as dificuldades dos tempos atuais, sendo bem sucedido na empreitada. Em entrevista para o Portal PN, Caio fala sobre literatura, jormnalismo e muito mais. Confira:

De que trata o "Crônicas a Temporais"?
O livro reúne em torno de cem crônicas publicadas por mim ao longo de mais de uma década no jornal O Mossoroense, onde eu assinava uma coluna dominical. São temas diversificados, mas sem uma interligação. Algumas memórias, algumas homenagens, o nosso fazer literário, de tudo um pouco tem por lá.   

E sobre a forma de produção e comercialização com venda antecipada maneira de "driblar" as dificuldades? Fale sobre esse processo.
Quando eu publiquei meu primeiro livro, em 1996, já utilizei este formato de venda por sugestão de Vingt-um Rosado, editor da Coleção Mossoroense. Infelizmente não existem incentivos à publicação no Estado. Ou o autor tira do bolso ou não publica. Então, é uma alternativa esta venda antecipada. Constrangedor, mas uma alternativa.   

Tem planos de lançar o livro em Natal? E em outras cidades?
Dependendo da proposta, vou lançar onde puder. Este é o objetivo do livro: ganhar o mundo. Sabemos que as dificuldades para venda de livro são sempre muitas, mas se estamos nesta chuva é pra nos molharmos.

Qual a sua opinião sobre as cenas literárias mossoroense e potiguar?
O Rio Grande do Norte é muito rico literariamente. De todos os cantos surgem escritores. Vários selos editoriais disputam seus espaços. Não creio que exista um movimento tão efervescente no país. Lógico, existe o desafio da distribuição. Nossas tiragens são muito pequenas e raramente ultrapassamos a fronteira do Estado. Mesmo criticado por alguns, perdemos a dinâmica Coleção Mossoroense, com ela, deu-se uma freada nas publicações que saíam de Mossoró. Ainda assim, a Sarau das Letras tem lançado muitos títulos no mercado.     

Fale sobre o atual momento do jornalismo em Mossoró, cidade onde a categoria sempre foi aguerrida e participativa.
Vivemos um momento de extrema preocupação. Jornais como O Mossoroense migrando pro online, Gazeta do Oeste fechando abruptamente e a situação do De Fato também, ao que se sabe por ouvir dizer, não é das melhores. Sabemos que a crise no impresso não é local, o mundo inteiro vem passando por este processo, mas para uma cidade que já teve quatro jornais diários é um momento de apreensão.         

Qual a diferença de escrever crônicas de outros gêneros como poesia?
Eu me considero mais poeta que cronista. A crônica me chegou quase como uma obrigação. Assumi a coluna n’O Mossoroense e havia o espaço para a crônica semanal. Fui exercitando, algumas coisas muito ruins saíram desta experiência, outras nem tanto. Continuo apaixonado pela poesia, apesar de também estar escrevendo pouco.

Comente sobre o fim da já saudosa Coleção Mossoroense.
Foi uma grande perda para a literatura do Rio Grande do Norte. Como disse antes, apesar de ser criticada por alguns, a editora era uma alternativa para autores com poucas condições de publicar os seus trabalhos. Sem contar com o concurso literário Rota Batida, que chegou a quatro edições publicando autores de todo o Estado. Espero que um dia possamos testemunhar o milagre de algum político sério, olhar para a cultura com olhos mais sensíveis. Apesar de mantida por uma fundação que levava um sobrenome político, a Coleção não tinha dono, ela era do Rio Grande do Norte.


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