Daniel Costa

28/05/2016 11h30

Não sei você, mas se tem uma coisa da qual eu não tenho saudades é da vida de solteiro. Cheguei a essa conclusão no último final de semana, depois de ouvir o Pereira dizer que estava engomando a melhor camisa pra ir ao show de Wesley Safadão, onde, segundo ele, o metro quadrado de morenas redondinhas e de loiras platinadas estaria explodindo em fartura. 

Assim como eu, Pereira gosta mesmo é de rock, mas diz que a sua solteirice o faz querer umas perninhas de vez em quando. Isso pra conse-guir sobreviver sem a necessidade de um bom sexólogo. Não o recrimino por conta disso. A música é ruim, mas os desejos carnais são inadiáveis. "Bola pra frente, Pereirinha". "Eu teria feito a mesma coisa".

Na verdade, confesso que quando vivia solteiro, perdido por aí, também tive que encarar alguns lugares sinistros. Lembro bem da vez em que foi preciso enfrentar uma noite inteira de música eletrônica, tipo bate-estaca, só para agradar a uma garota que ficava em êxtase ao ouvir três minutos de tunts-tunts-tunts. Eu entornava copos e copos de uísque na esperança de que o efeito do álcool fosse capaz de ludibriar o meu cérebro e modificar a melodia da "música". Mas não teve jeito. O resultado disso foi que passei duas semanas de doer, nauseado como um pescador que enfrenta a primeira torrente, e amargando uma solidão daquelas, já que a menina tinha conhecido um DJ, e eu acabei virando bola furada no jogo do amor.

Pior do que isso foi o que aconteceu com o meu primo Cazé, que lutou festa adentro por uma donzela, numa boate escura e quente, onde só tocava Ricky Martin, e quando ele finalmente venceu a batalha, no despontar das primeiras luzes do dia, acabou por perceber que a boca da suposta virgem padecia de alguns dentes e que os seus dianteiros estavam pretinhos feito tecla de piano velho.

Depois que ele me contou essa história, até que tentei ir a lugares menos ofensivos a fim de deixar claro ao meu subconsciente que eu não mais me submeteria, ao menos de primeira, a qualquer tipo de inferninho apenas para descolar alguém e não ficar em casa vendo o Fantástico nas noites de domingo. Mas depois de duas semanas frequentando shows de rock e de bossa nova recheados de cabeludos vestidos de preto e de sujeitos metidos a besta fedendo a cachimbo, disse para mim mesmo: "não deu, cérebro, me perdoe, vai ter que ser no brega do Cantinho da Jia. Vou ligar imediatamente pro Azevedo!".  

Pereira também falou que a entrada para o show do Wesley Safadão era a preço de camarada. "Duzentos e sessenta reais". “Tá louco, Pereira! Com essa grana eu curto três saídas com a minha esposa e de lambuja ainda organizo um big churrasco na companhia de pessoas das mais agradáveis, e sem precisar ouvir lixo musical”.
 
Pereirinha ficou meio cabisbaixo com essa. Aí eu tive de dizer que tudo bem. Perninha é perninha. Loiras e morenas também são legais. "Só não venha tentar me convencer, Pereira, a bem do meu casamento e da saúde dos meus descendentes, que vida de solteiro ao som de Safadão é o que há de mais divertido".


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