Daniel Costa

03/10/2015 16h55
Não sei se vocês já ouviram falar de João Machado. O sujeito foi um misto de jornalista e desportista, incentivador da construção do antigo Castelão, que depois, em sua homenagem, ficou conhecido como "Machadão". O eterno presidente da Federação Norte-rio-grandense de Desportos, costumava classificar a imprensa de Natal como" escrita, falada e gritada", esta última se referindo à imprensa esportiva. 
 
É certo que a forma gritada meio que abandonou a área dos es-portes. Mas renasceu muito mais barulhenta nos programas policiais, em que a característica marcante dos apresentadores é mostrar ao público que nenhum outro concorrente tem um grito tão forte e agudo quanto o seu. O mais incrível de tudo, porém, é que essa ululante selvageria de sons se apaga inexplicavelmente quando as matérias jornalísticas precisam ser analisadas sob a perspectiva do comportamento do aparato policial do estado. Por exemplo, a gente vê todos os dias na televisão uma quantidade enorme de armas apreendidas nas ações policiais, que, pela constância, devem alcançar algumas centenas, senão milhares. Mas, incrível, elas não diminuem nunca! Continuam sempre e sempre nas mãos dos ladrões, seja um traficante membro do Comando Vermelho, ou um punguista pé de chinelo. Aí eu pergunto: onde danado vai parar todo esse armamento apreendido? 
 
Parece que quando o assunto resvala na polícia, a imprensa da gritaria muda de tom e  prefere o silêncio da mordaça, já que nenhuma per-gunta  chega a ser ouvida em alto e bom som. Poderiam fazer pelo menos umazinha, algo do tipo: "quantas armas são apreendidas por ano e quantas são adquiridas nas lojas do ramo, no mesmo período?". 
 
 A coisa é mesmo de assombrar fantasma, principalmente quando a gente sabe do alto valor das armas novas e da burocracia soviética que existe para comprá-las. Como é que os bandidos as conseguem com tanta facilidade? Existe um comércio de armas ilegais, de venda, de aluguel ou algo parecido? Será que traficam do Paraguai? E a polícia, não consegue mapear esses "comerciantes"? 
 
Se essas respostas existem, tenho a impressão de que elas precisam ser divulgadas. Ou talvez seja o caso de inventar uma espécie de "disque pistola", para que a população informe quando souber que a polícia apreendeu uma arma, e a notícia não tenha sido gritada no programa policial do meio-dia. Que acham? 
 
Bom, o que não dá é pra ficar nesse silêncio total. Sem gritos e nem ruídos, enquanto a bandidagem exibe renovadamente um “trezoitão” na cintura, contabilizando diariamente um nova vítima. 
 

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