Daniel Costa

31/07/2015 16h45
Recebo de um anônimo leitor o seguinte e-mail: "Prezado Daniel, seus leitores estão a reclamar. Estão ávidos para ler seus comentários sobre o petrolão; a situação atual do Brasil: os juros, o risco de cair na classificação de nível especulativo, a inflação, o desemprego, o crescimento do PIB; a corrupção. O Financial Times publicou há poucos dias um comentário: a situação atual do Brasil é um misto de incompetência, corrupção e arrogância. E agora? Quedamo-nos confusos. Não sabemos em quem acreditar. Valha-nos com a sua luz!"
 
Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão, nunca escondi a minha posição política. Sempre deixei claro de que lado estou. Como articulista, jamais pretendi ser um observador neutro da realidade, à maneira dos historiadores. Apesar disso, também procurei não atuar como os militantes partidários, os ideólogos e os golpistas ansiosos, que varrem para debaixo do tapete as verdades que incomodam e só conseguem ler o que alimenta as suas próprias convicções. 
 
Bem por isso, você há de se lembrar que durante o período das eleições presidenciais fui taxativo ao escrever sobre os problemas econômicos que já assolavam o país. Na ocasião, deixei exposta a parcela de responsabilidade da presidenta. Claro, isso não me levou a ver o assunto como um copo meio vazio. A crise mundial, com o crescimento negativo do PIB de vários países, também era parte do problema. E ainda é. Como também ainda persiste a culpa da presidenta quanto à piora do quadro econômico, diante da aplicação de uma equivocada política de austeridade e da má condução das peças do tabuleiro político.
 
Essa constatação, porém, me entenda bem, não significa aceitar as verdades dos faná-ticos do apocalipse, que projetam uma superinflação e a bancarrota do país nos mesmos mol-des da profecia que previa a transformação do Brasil num regime socialista ao estilo cubano. É realmente preocupante que a taxa de desemprego e a inflação tenham aumentado. Mas, acredite, elas ainda se encontram em níveis menores do que aqueles apresentados durante o governo tucano de FHC, que teve a economia considerada estabilizada com o desemprego batendo a casa dos 12% e a inflação atingindo a média anual de 9,1%. 
 
Mas, se o caro leitor não tomou conhecimento desses fatos, então é possível que também não tenha conseguido ler quando tratei da necessidade de investigação e punição dos políticos petistas envolvidos nos casos do Mensalão e da Operação Lava Jato. O que não significa dizer que acreditei no trololó de que o PT é o partido mais corrupto do globo. O jingle da vassoura na campanha de Jânio Quadros, a compra de deputados por FHC, para alterar a Constituição e se reeleger, e a participação da oposição no escândalo da Petrobrás (Sérgio Guerra -PSDB), me fizeram perceber que a corrupção é um problema institucional que deve ser combatido de maneira apartidária. 
 
Enfim, reconheci o envolvimento do Partido dos Trabalhadores nos casos de corrup-ção, mas sem ficar silente quanto ao espancamento do princípio da presunção de inocência nos emblemáticos casos da aplicação da teoria do domínio do fato e das prisões preventivas decretadas ao arrepio da lei. Perdão, querido leitor, mas não sou do tipo que fala em “Petro-lão” e esquece do “Trensalão”. 
 
Você me traz uma afirmação do Financial Times. E percebo que ela daria um bom complemento a um dos meus últimos artigos intitulado "Imprensa Zero". Comparar o artigo do jornal inglês à reportagem do New York Times, que sugeriu um início de recuperação da economia brasileira, seria um excelente exemplo de como se deve ponderar sobre o valor das notícias.
 
“A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez habitam nosso corpo e o espírito viciam (...) hipócrita leitor, meu igual meu irmão”. Receba essa luz final de Charles Baudelaire. E não se quede confuso!
 

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